VINDE VER
Gestos familiares
Eram quatro irmãos, quando vieram para a nossa Casa do Gaiato de Malanje e estiveram durante vários anos, fazendo parte daquela grande família dos filhos que foram resgatados do abandono e da vadiagem que, embora tendo perdido o afecto e o apoio da família biológica, não perderam, de jeito nenhum, o desejo de serem amados. O maior destes quatro rapazes, depois de ter feito o ensino médio e ter aprendido a trabalhar, foi o primeiro que deixou a nossa Casa, passando a viver no regime do autogoverno. Na família nuclear, também é assim: os filhos nascem, crescem, "ganham asas" e voam ao encontro da sua própria realização. O segundo irmão, é o «Luís», esse permaneceu mais tempo e chegou a ser chefe-maioral. Há três anos, também deixou a Casa, para começar uma nova experiência. E veio para Benguela, procurou trabalho e encontrou. Procurou um quarto, para repousar a cabeça no fim do dia, e encontrou. Procurou um curso superior e encontrou, pagando ele próprio a mensalidade, quer da casa, como da escola. E este é já o terceiro ano do curso de Direito. E tem sido muito generoso para com a nossa Casa. Sempre que me vê aflito, telefona e, em tal dia, pede para levar a carrinha e nos dá o que tem no seu trabalho. O seu chefe assegurou que apoia a iniciativa do Luís e virá um dia destes visitar a nossa Casa. Foi por amor que o rapaz foi ajudado e hoje, por amor, ajuda os seus irmãos. Haverá no mundo sinais tão claros, tão reais de fraternidade, como este? Tudo acontece no silêncio. O rapaz nunca tocou a trombeta. O amor é força geradora de vida. E quando uma família exclui do seu seio o amor, de seguida colhe os frutos desta desastrosa sementeira - a desestruturação, a incompreensão, a violência e, por fim, o incumprimento das responsabilidades dos seus membros, deixando as crianças à sua sorte - inocentes sem eira-nem-beira.
Ajudar cada rapaz a fazer-se um Homem, é tarefa árdua e pede a colaboração de todos os membros da família e de toda a sociedade. A escola, em idade correspondente, é promissora na construção de um edifício humano equilibrado e saudável socialmente.
O trabalho é fonte de tamanhos benefícios em várias dimensões da vida humana, é uma terapia convincente, viável e oportuna para resgatar a dignidade perdida.
A vida comunitária é bálsamo para sarar chagas físicas e emocionais que a experiência de uma vida traumatizada carrega.
A conclusão é de Pai Américo; "quantas vezes não vê a gente nas ofertas mais insignificantes grandes faúlhas de amor".
Padre Quim