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Alarga a tua tenda

A humanidade atravessa uma fase específica do seu percurso histórico. As comunidades chamadas a pautar por uma organização alicerçada sobre os princípios de boa convivência, atravessam sombras densas em matéria de ética, humanismo, solidariedade, e sentido de responsabilidade no que diz respeito ao bem-comum e ao sentimento de pertença ao "habitat" que a todos engloba. A Terra é património de todos os viventes, é herança deixada pelos antepassados. As divisões estabelecidas entre os limites territoriais que separam irmãos da mesma procedência, são absurdas e escandalosas. A luta pela sobrevivência tem forçado esta lógica imposta pelos muros e redes electrificadas. As ondas violentas do mar têm engolido vidas que tentam buscar, pelo menos, um segundo de experiência de viver, algum dia, com dignidade. O petróleo dos países africanos é levado com a mais alta protecção para outras paragens. A sua maior riqueza, que são os seus filhos, não tem a mesma sorte e acomodação.

As nações tentando a todo o custo a segurança territorial, encontram-se cada vez mais vulneráveis, "se o Senhor não guardar a cidade em vão vigiam as sentinela", atesta o salmista. Ouviu-se no noticiário que na grande potência do mundo também houve ingerência estrangeira nas ultimas eleições presidenciais. O fantasma assustou-se e tremeu. O mundo gemeu. Os muros crescem, os arames separam uns e outros. Ricos e pobres cada vez mais longe do acesso a um lugar à mesa para os dois. Era de uma vez em que se desatou a língua e uma voz fez silenciar a sala de atendimento dos serviços de emigração estrangeira algures, em tal país bem longe daqui: "somos todos irmãos, foi a independência que nos separou". Desde então cada qual começou a chamar minha mãe àquela que era nossa mãe, minha riqueza àquela que antes era a nossa. E como tão forte tinha sido aquele disparo de canhão o senhor fiscal ficara desarmado em seu posto de comando aparelhado de alta segurança. Aquela pessoa que bate à tua porta não é um malfeitor é teu irmão que vem de longe. Uma longa viagem o deixou maltratado, doente, ferido, farrapado, cheio de fome e frio. Agora estende a tua mão, abre a porta e deixa entrar a alegria do acolhimento em tua casa. Um dia destes, há já muitos séculos, Zaqueu fez entrar a salvação na sua própria casa, e ficou tão feliz por partilhar e restituir o que tinha roubado aos pobres. "Hoje a salvação entrou nesta casa", assegura o Mestre a todos os que acolhem os peregrinos fatigados pela desventura da vida amarga em suas zonas de origem. Guerras, conflitos tribais, religiosos, fome, epidemias.

Um grupo de rapazes com idade para ganhar o pão de cada dia com o suor do seu rosto, está de saída da nossa Casa graças ao caminho de ferro que abriu as suas portas para garantir a continuidade do trabalho que a Casa do Gaiato começou há muitos anos com os filhos abandonados. Um já se encontra a trabalhar no Moxico e três esperam partir para o Huambo no final do mês. Que outros sectores da vida social venham também abrir as suas portas para enquadramento no mundo do trabalho beneficiando os nossos rapazes que tanto precisam deste apoio. A conclusão é de Pai Américo "o sofrimento das crianças que todos os dias encontrava na rua, famintos de pão e amor, fez nascer no seu coração de Padre a força para amparar, assistir, compreender, amar ao infinito estas adoráveis crianças que guardam dentro do peito o desejo infinito de ser amadas".

Padre Quim