VINDE VER!

Aulas para todos

Os rapazes regressaram às aulas depois de uma semana de paralisação por motivo da greve feita pelos professores do ensino geral em todo o País. Deixaram as salas de aulas para ensinar à distância que a sua classe deve ser valorizada, clamando pelos seus devidos direitos, ora ignorados. A criança é o futuro da Nação. É vítima da irresponsabilidade dos adultos e destes acontecimentos que transtornam a sua boa educação, tudo porque quem de direito deixou que as coisas pudessem chegar a esse extremo. Vejamos um disparate dos últimos dias, a televisão pública noticiou que, num banco no estrangeiro foi detectada uma transferência ilegal de 500 milhões de dólares, para o beneficio dos filhinhos. Outros tantos terão tido destino semelhante noutras paragens do globo no tempo da sabotagem do País, e na altura não tinham sido dado ao conhecimento público, porque o silêncio era o ganha pão de muitos colaboradores da pilhagem que sofreu o nosso Povo. E agora não há meios para melhorar o nível de vida dos construtores de uma Angola nova? As condições degradantes de milhares de crianças antes de chegarem à escola não possibilita o processo de ensino — aprendizagem com a obtenção de algum sucesso. Saneamento básico, insegurança no percurso casa-escola, a fome, sem tocarmos nos outros problemas encontrados no ambiente escolar.

O professor mandou chamar o encarregado de educação, e fui responder e estar a par do sucedido, apresentou-me o caso do «Dani pequeno». O menino não quer escrever. Disse o professor. Peço que o traga cá para fora, para ele dizer isso na minha presença. Veio triste e não disse nada. Fiz-lhe a pergunta e ele inverteu o que tinha dito ao professor. Voltou para a sua carteira com apenas uma recomendação: escreva. A educação contempla momentos também de exigências e obrigatoriedade. Quando for um homem não deve fazer o seu dever só quando lhe apetecer. Se não for hoje a receber este imperativo amanhã vai receber outro mais pesado que a vida vai impor-lhe.

Uma Organização de solidariedade quer ajudar-nos a renovar a biblioteca de Casa; arranjo da estrutura física, alguma modificações na iluminação, disposição de espaço de atendimento e leitura, e também com algum material novo de apoio, sobretudo aos manuais da reforma educativa em vigor em Angola. O dito material traz uma informação assim: "distribuição gratuita", e outra: "proibido a venda". E para consegui-lo é preciso ir à praça e comprá-lo num preço a cima de dois mil kuanzas cada um. E com turmas de 10 e de 15 rapazes não é possível que cada um tenha o seu próprio manual.

Esperamos pela materialização deste projecto de pessoas de boa vontade para engrandecer a cultura escolar das nossas, e outras, crianças que pela nossa escola encontram um caminho de promoção académica para o seu futuro. Não há educação sem investimento e compromisso sério de quem governa o sector. A conclusão é de Pai Américo: "À hora da escola toca a sineta e aí vem o espectáculo mais caseiro da nossa Obra: os rapazes a caminho das aulas. Uns pela avenida. Outros por atalhos. Grupos consoante as simpatias. Cores diversas. Vai a bola. Vai o arco. Vai o à-vontade. Assim se vinca a personalidade de cada um, na liberdade de escolha."
Padre Quim