SETÚBAL

Vindima

A nossa vindima é uma colheita que me parecia ser sempre agradável a todos os rapazes. Mais ainda quando a uva é moscatel. Mas nem todos gostaram. Isto de dobrar a mola não é das posições físicas mais atraentes, sobretudo quando o sol começa a aquecer.

No primeiro dia é novidade. As uvas são muito docinhas e na vindima não há freio, cada um come o que quer e lhe apetece, mas nos dias seguintes já as coisas parecem pesadas.

Cada um com a sua tesoura e o seu grande alguidar, alinharam a dois, cada um ao lado da carreira armada da vinha. Como esta é muito mais comprida que larga — as dezanove filas medem 340 metros cada, tem apenas dois travessões e dois cabeceiros, foi preciso carregar os alguidares e as caixas das uvas cerca de oitenta metros o que tornou a tarefa mais pesada e fastidiosa. Ainda alguns refilaram com razão: — A caixa do tractor vinhateiro faz cá muita falta para carregar as uvas -, mas não havia motorista e a vindima precipitou-se repentinamente com o exame das videiras e das uvas, feito pelos senhores que nos fazem o vinho. — Tem de ser amanhã. E teve mesmo de ser. Isto não dependia de nós.

Apanhamos quatro tinas. Duas à tarde e duas de manhã. Mas a meio da colheita veio ordem para não deixarmos as uvas de um dia para o outro na tina por causa da oxidação. Assim só podemos vindimar da parte da manhã.

As videiras estão carregadas de uvas, a vindima é abundante.

Já aqui observei que a nossa vinha não tem apenas finalidade de produzir uvas, mas também a de dar aos rapazes a imagem viva do Evangelho utilizada por Jesus: Eu sou a Cepa, o meu Pai é o agricultor. Eu sou a Cepa vós sois os ramos. Cada vara que não dá fruto, o meu pai limpa-a para que produza mais, etc., etc..

As imagens da vinha tornam-se assim mais próximas e mais reais para os rapazes com a vindima.

Ano novo

O ano lectivo é, para nós o princípio do ano muito mais notório que o ano civil.

Numa Casa de educação como a nossa, cujo único objectivo é fazer de cada rapaz um homem, o ano escolar exige preparação adequada não só de material, de ritmo mas também de adaptação ao esforço que a aprendizagem impõe. Fazemos grupos de estudo a disciplinas menos simpáticas, com os mais velhos a servirem de explicador e vigilantes. Não é agradável para alguns, mas tem de ser.

Hoje, o trabalho intelectual e o hábito de pensar raciocinando, tornou-se uma necessidade imperiosa para quem quer, amanhã, levantar a cabeça com emprego bem remunerado.

Os nossos, cuja família não lhes pode fornecer nada, precisam mais que quaisquer outros, destes bons hábitos.

A sua enxada é sua cabeça e a propensão para o trabalho.

Padre Acílio