SETÚBAL

O contentor para Malanje está em bom andamento. 
Esperamos receber as máquinas nos finais de Setembro das quais pagámos somente vinte por cento; já temos em casa o arame farpado em serpentina, já pagámos as carnes enlatadas e a feijoada e encomendámos todo o material e máquinas para a rega de vinte hectares, que estarão ao nosso dispor nos princípios de Outubro e custarão cerca de cinquenta mil euros.

Esta iniciativa tem dado lugar a heróicos sacrifícios que me provam a Presença Divina na sua efectivação.

Uma tonelada de feijão, acabado de colher, foi oferta de gente que cultivou com sacrifício e o deu com os olhos no Céu. Um cristianismo vivo, santo e actual.

Uma senhora desfez-se de um objecto de ouro de grande estima e vendeu-o para colocar na nossa conta o seu preço. Um padre mandou dois mil euros, mais 400 de pessoa das suas relações. Outro sacerdote pôs na nossa conta mil euros. Várias amigas responderam prontamente com dádivas de mil euros. Mais, duzentos, em sufrágio da alma de uma irmã, tirado do subsídio do funeral e também 250 de Coimbra com dor dos rapazes e do padre se alimentarem somente de feijão e arroz.

Espero que apelo o chegue a todos os leitores capazes de sacrifícios.

Distribuição aos pobres

Não quero falar dos avios, que continuamente fazemos nesta Casa aos pobres, nossos irmãos, com alimentos, roupa, calçado, medicação, rendas, água, luz, gás, mobílias e electrodomésticos, mas daquela partilha que, de vez em quando, vou fazer com os rapazes onde a pobreza na cidade se junta mais, quando nos dão peixe em grande quantidade, pão, iogurtes, fruta e saladas.

De vez em quando, o Banco Alimentar - nós não estamos inscritos nesta instituição - telefona-nos para irmos buscar o que está no fim do prazo ou já a deteriorar-se.

Em Casa escolhemos e, a seguir, vamos fazer a distribuição.

É um serviço que prestamos a esta respeitosa entidade e aos pobres a quem servimos.

Normalmente vai a nossa charan com os bancos deitados, um cobertor por cima deles para os proteger e todo o espaço é cheiinho de mantimentos actuais.

Nestes dias, fomos buscar ao Banco Alimentar nove contentores de iogurtes líquidos e pastosos. Uma maravilha!... Com embalagens tão bonitas que até um cego as poderia admirar! Faltavam dois dias para o fim do prazo.

Ficamos com uma pequena parte na nossa câmara de refrigeração para o nosso consumo e abastecimento dos auxílios diários a quem nos bate a porta.

Os dois rapazes cheios de coragem e alegria ocupam os bancos da frente na expectativa de aliviarmos o fardo daquela gente.

À chegada aos lugares costumados, pressiono a buzina da carrinha, as pessoas vêm à janela e às portas, apercebem-se e rodeiam-nos providas de sacas, alguidares ou panelas, numa gritaria nunca vista!

Muitos, com medo que não chegue para eles, empurram-se, procuram os primeiros lugares e todos exultantes porque vai haver fartura à sua mesa.

Normalmente peço que façam uma bicha, mas é muito difícil conter a algazarra!

Aparece de tudo: gente gulosa a querer só para si e pessoas humildes gratas e felizes com o que lhe damos repetindo: - obrigado, obrigadinho.

Os rapazes impõem-se. Dão só o que eu mando e não o que as pessoas exigem. - Isto é para todos não é só para os mais espertos - gritam eles, impondo ordem.

Os rapazes sempre gostam de distribuir e comungar a alegria esfuziante da multidão.

Sabemos bem que uns precisam mais que os outros, mas não temos capacidade de fazer melhor. Mais vale distribuir do que deixar estragar-se pois ainda há muita gente que só come estes mimos quando lhos vamos oferecer.

Padre Acílio