SETÚBAL
Fava
Todos os anos fazemos uma cultura abundante desta leguminosa, tão rica em ferro e proteínas. Semeada em terra de areia e alta, o faval cresceu e frutificou copiosamente, devido à chuva de Março e Abril.
Ontem, na sala de jantar, enquanto rezávamos o Terço, orientado por mim e não por um rapaz, como é costume, organizaram-se grupos de cinco elementos cada um, à volta da mesa redonda, com cerca de dez quilos derramados à volta e uma terrina no meio; de pé, os rapazes e eu, debulhámos quantas haviam apanhado alguns rapazes, as senhoras de Setúbal que dão o seu dia de segunda-feira à Casa do Gaiato e mais duas empregadas.
Congelámos este produto quando ele está feito, mas ainda tenro, isto é, com olho verde. Se este sinal fica preto, então pomo-lo de lado, para se tirar a casca e fazer sopa ou arroz.
A fava, em nossa Casa, é um alimento que, além de rico, serve ainda para variar as refeições. Normalmente no tempo frio a fava vem à mesa uma ou duas vezes por semana.
É apanhada e logo debulhada e posta em sacos plásticos transparentes para uma dose. Ao longo ano, tira-se da câmara congeladora na véspera e fica tão saborosa como se fosse colhida na hora.
Todos os rapazes, que ao chegar, não gostavam de favas, passados poucos meses, começam a apreciá-las. Até pessoas que nunca comeram favas e pensavam não gostar delas, ao provarem as nossas, descobrem que, afinal, as favas do gaiato são uma comida agradável e boa, perdendo então a ideia de que a fava, não é, nem fora, alimento humano.
Hoje, como não houve aulas, organizámos uma equipa e apanhámos cerca de 370 quilos de vagens com os grãozinhos lá dentro. Abrir uma vagem e ver como a natureza cuida de cada um, envolvendo-os numa espécie de algodão branquinho, é uma maravilha escondida e apreciada somente por quem contacta com esta fonte de vida.
Aqui não se manda ninguém à fava. Todos gostamos delas.
Banda
Está praticamente parada, a nossa banda.
Os rapazes que tocavam tuba, trombone, clarinete e, até, caixa, foram-se embora, pondo de parte toda a riqueza musical que aqui aprenderam, e nós ficámos sem gente que também gostasse da música.
Dada esta guerra surda e ferozmente fria que a lei impõe, embora haja muita criança abandonada sem ninguém que lhe possa dar a mão a não ser com licença da lei, não têm entrado rapazes.
Sem eles, é impossível manter uma banda com 23 elementos, como começámos. Nicasio e Roni têm sido os maestros de solfejo dos mais novos, mas eles estão pouco entusiasmados, pois não tocam, nem ouvem, a música da banda. Alguns começaram, mas já estão fartos; é quase um imposição, ler música.
Outros, mais velhos, foram obrigados a suspender a aprendizagem e execução musical dificultada pelos horários de trabalho das empresas onde se encontram comprometidos.
Mesmo assim, espero ainda voltar a pôr de pé a nossa banda.
Padre Acílio