PATRIMÓNIO DOS POBRES
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A falta de casas neste Distrito, é uma das maiores carências atuais. Nem reformas, nem subsídios, nem ordenados estão ao nível do custo das habitações.
A doação da casa à Janete está a ser um verdadeiro rastilho que me queima. São tantas as famílias a viverem acumuladas, em barracas, em carros abandonados que me atiram argumentos: se a Janete tem direito, nós também. É verdade que dar casa a uma família não é minha obrigação, nem do Património dos Pobres. Só o fazemos por derradeiro amor às seis crianças, à abnegada mãe — e gritar esta lacuna perante as autoridades.
Em princípios simples, todos estes brados que irrompem da pobreza extrema, têm uma certa razão de ser, para quem não tem fé, nem acredita no amor misericordioso de Deus, na comunhão dos cristãos com o sofrimento dos pobres e heróica generosidade de alguns corações. Quem me dera que o Património pudesse socorrer todas aquelas famílias que, sem tecto, estão à beira da miséria ou já nela imersas.
A necessidade de habitações devia estar na mira do principal objectivo de um programa de qualquer Governo. Sem casa não pode haver família e sem famílias a sociedade caminha para o caos. Ninguém resiste. Tudo é desequilíbrio.
Uma pobre viúva com dois filhos a dormir num carro abandonado é o espelho das minhas aflições.
Um País terá um desenvolvimento normal, quando cada família possuir capacidade para ter uma casa, onde habitar. Isto é tão claro como as lições da Natureza que o P. Américo ia buscar: "O crustáceo cria a sua concha, a ave faz o seu ninho e a raposa a sua toca".
Ninguém fala mais alto, nem mais acertado, do que a própria Natureza.
Nascer num ambiente familiar em casa e nela crescer, até adquirir capacidades para construir ou alcançar, por compra ou renda, um lugar digno para viver, é o objectivo de um verdadeiro homem. O resto é contrariar a Natureza.
Legalmente, é ao Governo que compete ter nas mãos estas iniciativas, as quais se mostram mais evidentes nas grandes Cidades, onde a miséria se avoluma, a indiferença se disfarça e o sofrimento é cada vez maior.
Num dos últimos escritos, de forma ligeira, abordei o problema da Rita. Esta senhora, criada sem casa e ao Deus dará, foi mãe aos dezasseis anos com um homem de vinte e dois. A seguir à primeira filha, vieram mais duas.
O progenitor alheio à sua responsabilidade paternal, meteu-se na droga e não queria saber de mais ninguém. Filhas e mulher eram estorvo à sua libertinagem, de tal maneira que a Rita se fartou dele e o pôs na rua, uma vez que as despesas das filhas e dele caiam todas sobre ela.
O que aquela mulher tem passado para criar as suas meninas!... Com que ternura e há quantos anos a temos ajudado!... Quantas vezes lhe pagamos a renda da casa!...
Ela que vive apavorada de medo que lhe tirem o mais precioso da sua vida: — as ricas filhas.
Agora que trabalhava na Tróia, ganhando 700 euros, surgiu-lhe, repentinamente, um aneurisma na cabeça e ela teve de sair e perder o trabalho porque a empresa não podia aguentar uma pessoa com esses problemas. Sim, o empresário, nestas circunstâncias, não era obrigado a admiti-la ao seu serviço, mas o Estado, que recebe os impostos do empresário, é obrigado a assumir este encargo.
Tudo lhe falta! Quem deve remediar a situação? Se vivemos num Estado de Direito, a este compete socorrer a presente cidadã, para que ela continue firme ao seu dever maternal. Não é o Património dos Pobres que deve ir ao encontro desta infeliz, nem qualquer outra Instituição da Igreja, mas, sim, o Estado que recebe os impostos da empresa.
Quem representa o Estado e está mais próximo das pessoas, não é a Segurança Social? E que fez ela? Cruzou os braços e descartou-se: — Não temos verba.
Como poderá esta mãe aguentar uma renda de 400 euros, num quinto andar, sem elevador e, se não cumprir, ser posta na rua, pela autoridade (?) do Estado. Não será isto uma contradição repugnante?
Que remédio, tenho eu, senão gritar?
Padre Acílio