PATRIMÓNIO DOS POBRES
Acontece quase sempre que, quando damos uma esmola a um pobre ou uma ajuda a um aflito, salta-lhes espontaneamente do coração, um grande agradecimento junto a um elogio a que eu respondo sempre: — dê graças a Deus e a mais ninguém, pois só a Deus devemos tudo. É Ele que toca os corações é Ele que lhes sugere e penso que quase os empurra com o suave vento do seu Espírito.
Apetece prostrar-me por terra como Aqueles tantos que O viram através dos seus mensageiros ou O sentiram nas próprias inspirações, no decorrer da história da nossa Fé Cristã.
— Que Deus o abençoe —, dizem-me. Eu respondo sempre: — Deus abençoa-me, se não, como poderia eu auxilia-lo(a)? Dê somente graças a Deus!
É uma pobre mulher com três filhas a seu cargo, abandonada pelo pai delas. Dá tudo por tudo para que não lhe tirem as suas meninas! Uma já anda no quinto ano mas..., desabafa a mãe: - Tem fracas notas porque é preguiçosa. A irmã que frequenta a primária é uma boa aluna tem notas excelentes. A mais pequena ainda anda na pré.
Há muito tempo que ajudamos esta pobre mãe, embora se passem alguns meses sem que ela apareça. É conforme o trabalho.
Agora a mais novinha adoeceu com uma pneumonia e teve que ser internada no hospital. Para acompanhar a criança, a mãe perdeu o trabalho.
Cortaram-lhe a água e, durante duas semanas, andou a carregar de uma bomba de gasolina perto da sua morada, um quinto andar sem elevador, água com garrafões para fazer comida, lavar a louça, alguma roupa e limparem os quatro corpos.
Paga de renda 400 euros mensais. Já arranjou trabalho em Troia mas terá de pagar o passe do barco no primeiro mês, dinheiro que ela não tem e só lhe será devolvido apôs a sua prestação mensal. Não tinha nada para comer, nem para dar às meninas.
Telefona. Fala com a senhora. A D. Conceição não é só mãe dos rapazes, expande a sua maternidade a muitas sofredoras. É ela que me vem expor à situação.
— Sabe quem me telefonou? Foi fulana — Ela sabe os nomes de todas — Coitadinha está tão aflita.
Não era para menos. — Mande-a vir cá, falar comigo e arranjo-lhe um avio bom.
Uma renda de casa de 400 euros é uma violência para tantos encargos: água, luz, gás, alimentação, etc. Embora as filhas tenham abono de família.
Há muito que pediu uma casinha aos serviços camarários, mas até hoje, nada.
A falta de casas é um desespero para as famílias sem rendimentos suficientes.
Quantas casas precisa a cidade? Quantas? Quem recebe os pedidos, conhece a quantidade de fogos necessários e sente a urgência da sua construção deve movimentar "os cordelinhos" para responder a necessidades vitais.
Claro, que ralhei com esta jovem mãe: - como é que tu tens uma casa tão cara? — A resposta saiu-lhe da boca como um tiro: — e onde é que eu arranjo mais barata?
— Olha — respondi-lhe, — ainda a semana passada mobilamos dois andares a duas famílias brasileiras que conseguiram um andar no Vale do Cobro por 250 euros. Tens que mudar de casa. Procura.
Estes ralhos meus são, no tom, iguais aos que os pais usam com os filhos.
Dei-lhe 200 euros em dinheiro e mais 400 em cheque.
Apôs esta conversa tida na presença apenas da filha, D. Conceição torna a interceder: ela não tem como ir para Setúbal e o avio é muito pesado. O senhor tem de a levar para casa. — Era uma ordem, não de uma mãe, mas de Deus que falava pela sua boca.us
É doce obedecer a Deus e compensador amparar os pobres.
Padre Acílo