PATRIMÓNIO DOS POBRES
A defesa dos pobres e oprimidos bem como a libertação dos presos à miséria, é o alvo essencial do Património dos Pobres, como o atestam os testemunhos da Obra da Rua. Foi por causa dos caídos nas vielas, nas mansardas e nas barracas, a dormir na palha, no chão e na lama, foi por causa desta gente que o Padre Américo lançou o Património dos Pobres, não somente para dar abrigo, mas, sobretudo, para chamar a atenção das Entidades Públicas.
A habitação é um dos primeiros direitos do homem, mais que a Educação ou a Saúde.
Mal ou bem, por todas as cidades grandes ou pequenas se levantaram bairros com moradas de renda aceitável e, como eu conheço em Setúbal, alugueres meramente simbólicos, como casas por 6 euros, 12, 20, 30, etc., mensais. Um preço simplesmente pedagógico para que os moradores sintam que, ao fim do mês, têm obrigação de pagar a sua casa.
Uma política de habitação bastante louvável. Falta somente o acompanhamento por pessoas com dignidade, de intenção pura, para velar paternalmente, sem paternalismos, pelas famílias. Limpeza das casas, das escadas, dos átrios e lugares de lazer, bem como verificar se os filhos vão à Escola, se os maridos ou companheiros trabalham, se a economia doméstica é bem gerida, se a saúde é cuidada etc., etc..
Facultar casa acessível é um dever das Entidades Públicas, sobretudo nas cidades invadidas por gentes ciganas, oriunda de África ou de outros países com níveis de vida desorganizada e baixa.
Eu não sei a quem compete mas é com certeza nas Autoridades Citadinas que recai a obrigação de promover ou forçar quem de direito para que este gravíssimo problema se resolva, se atenue ou não se continue a agravar.
Não compete ao nosso Jornal fazer política. Longe disso. Incumbe, sim, gritar, para que os sem-abrigo tenham uma casa digna.
Nesta conjuntura é muito difícil construir, por falta de mão-de-obra especializada, a qual saiu para o estrangeiro na passada crise, mas não é impossível, pois ainda há quem ensine. Necessário, necessário, é pensar e fazer.
Não há direito que as famílias se aglomerem, durmam debaixo das varandas, dos corredores ou cozinhas da casa, em promiscuidade demolidora.
A maioria dos homens e mulheres sensatas pensam exactamente como eu.
É verdade que reparamos casas, mobilamos, compramos e distribuímos electrodomésticos, mas, não tendo capacidade para resolver tão largo e premente problema, o nosso dever é gritar com toda força.
Uma leitora escreve-me: «Hoje foi dia de receber O GAIATO e, como sempre, tirei alguns minutos aos afazeres domésticos para ler, sempre em primeiro lugar o Património dos Pobres e, depois, outros artigos por ordem de interesse social e humano com que os senhores padres tão bem informam os leitores.
Todos os casos narrados no P. dos Pobres são sempre impressionantes, mas alguns bradam aos céus! O de hoje foi um desses. E a respeito faço-lhe uma confidência: já me tinha passado pela ideia pedir que o Jornal fosse enviado para os nossos governantes, mas afinal hoje tive a confirmação que já o fazem e assim faço minha a sua pergunta: será que alguém lê e faz chegar-lhes estes casos dramáticos aos seus conhecimentos?
Realmente o tal advogado, seu conhecido, tem razão ao dizer - só com a SIC ou outra rede de comunicação, estes casos encontrem "eco" nesses duros corações!»
Sem comentários.
Padre Acílio