PÃO DE VIDA
Dois Peregrinos
O Papa Francisco, ansiosamente esperado, finalmente veio a Portugal, em especial a Fátima, a 12 e 13 de Maio. E foi calorosamente acolhido, nomeadamente no Santuário por cerca de 500 mil pessoas. Como ponto alto, presidiu à celebração da Eucaristia no 100.º aniversário da 1.ª aparição da Virgem Santa Maria em Fátima.
O Sucessor de Pedro, peregrino da esperança e da paz, ficou bem tocado e encantou os portugueses, com as suas palavras e os seus gestos, que não deixaram ninguém indiferente. Em Fátima, transparecem os dramas da humanidade e o sofrimento de Deus, que apela sempre à conversão. O Papa saiu para vir 24 horas intensas ao nosso encontro e quem conseguiu peregrinar fez bem não ficar em casa, pois foram momentos únicos, inscritos a ouro na história da Igreja em Portugal. Da ordem ao silêncio orante e à alegria esfusiante, quem testemunhou o acontecimento guardará para sempre grata e feliz memória, como nós, pela primeira vez nesse dia, com abrigo das Irmãs Concepcionistas.
Para pedir a intercessão da Virgem Maria em Fátima, há um rio de oração que corre há cem anos. Afirmou que Ela é a Bem Aventurada por ter acreditado sempre. E não a santinha a quem se recorre para obter favores a baixo preço. O coração de todos os peregrinos estremeceu, ao escutar: Queridos peregrinos, temos Mãe, temos Mãe, temos Mãe! Agarrados a ela como filhos, vivamos da esperança que assenta em Jesus. Com a canonização dos pastorinhos de Fátima, deu um lindo sinal de atenção por todas as crianças, sabendo que Francisco e Jacinta, pela oração e penitência, foram o espelho da luz de Deus. Considerou os doentes um tesouro precioso da Igreja - Jesus escondido mas presente nas chagas dos nossos irmãos e irmãs doentes e atribulados. Mais: No altar, adoramos a Carne de Jesus; neles encontramos as chagas de Jesus. Suplicou a paz e a esperança para todos os seus irmãos no Baptismo e em humanidade, de modo especial para os doentes e pessoas com deficiência, os pobres e abandonados. Como corolário, disse que Fátima é sobretudo este manto de luz que nos cobre, aqui como em qualquer lugar da Terra, quando nos refugiamos sob a protecção da Virgem Mãe para lhe pedir, como ensina a Salvé Rainha, 'mostrai-nos Jesus'. Também ficou um grande desafio, quando apelou aos peregrinos para que sejamos, no mundo, sentinelas da madrugada que sabem contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Salvador, aquele que brilha na Páscoa.
Há 65 anos, também chegou a Fátima um peregrino, dos pobres, pregando a Luz. É uma dessas sentinelas da madrugada, com esperança em novos tempos, tão em sintonia com o Papa Francisco. Do Padre Américo, numa coluna do seu punho, um tónico de fé em Cristo Vivo. Eis:
Uma das notas para mim mais consoladora, foi a imensa alegria dos pobres, ao terem conhecimento da minha oração; uns porque tiveram a ocasião de escutar, outros porque outros lha disseram. Nas minhas frequentes visitas aos barredos, os meus visitados não tinham outra palavra: nós fomos falados por si em Fátima. Nós fomos defendidos por si em Fátima. Alguns dos rapazes visitantes dos outros pontos da cidade e de outros pobres, trazem-me deles notícias semelhantes. De um pobre de S. João da Madeira, soube que ficou tão comovido ao ouvir a oração, que pediu para fechar o rádio: eu não posso mais! Quando iremos nós deixar a caricatura e dar às almas o Cristo Vivo que se fez sangue - quando?!
Mas há mais. Como eu tivesse pregado as tocas e dito que tendo visto numa, de animais, uma família com os animais, eu afirmei que ao pé se estava erguendo uma casa e esta já com vidraças. Lembro-me de ter pregado as vidraças. Lembro-me de ter pregado a luz. Eu quero que a luz do sol chegue e aqueça todos os homens. Pois bem; uma vez em casa, fui propositadamente ver se as janelas já estavam postas. Gosto de me encher da verdade que prego. Estavam sim senhor. Estavam as janelas e estava mais isto que eu vou dizer: um aglomerado de gente pobre, mal eu chego, vêm todos ter comigo e com os seus olhos, mais do que a boca, dizem-me o que e como eu tinha pregado. Foi das nossas casinhas novas. Foi das vidraças. Nós ouvimos falar em vidraças. V. falou dos pobres. Falou de todos nós. Louvado seja o Senhor.
Preguemos o Cristo Vivo. Impregnemos o mundo de Verdade e já ela, a Verdade, não causará espanto. Façamos que os coxos andem, que os cegos vejam, que os ricos se compadeçam, que os surdos ouçam. Como? Pregando os pobres sem medo nem reticências. Pregar para melhorar a situação de cada um. Ampará-los para que não venham a cair na miséria. Aquela oração de dez minutos foi dos pobres aos pobres. Milhares e milhares deles escutaram. Quanto alívio! Quanta esperança! Nunca Fátima foi tão Fátima. E sê-lo-á ainda mais, quando, ao lado do Santuário de hoje, se vier a erguer o Preventório e o Sanatório e outras modalidades de assistência conduzidas e mantidas pela Igreja. Ela não se pode demitir destas suas responsabilidades; o homem total é o objecto da Redenção. Quem sabe se e quando eu ali tornar com outros dez minutos, haja mais este milagre - quem o pode dizer?!
Padre Manuel Mendes