PÃO DE VIDA

Um Retiro no Porto

Em Fátima, por ocasião do Simpósio do Clero, o Reitor do Seminário Maior de Nossa Senhora da Conceição - Porto, Padre José Alfredo, que foi companheiro de Seminário, veio dizer-nos que era necessário pregar um retiro, de início de ano lectivo, aos Seminaristas maiores do Porto, de Vila Real e Coimbra. Ficámos mesmo atrapalhados e ao mesmo tempo logo comprometidos com tal proposta inadiável. Um serviço tão belo como o que nos foi apresentado, por amor à Igreja, só tinha uma resposta possível: Sim! Parafraseando o nosso pequenito Norberto, da Cova da Moura, como disse uma vez, também nós segredámos: As saudades que eu já tinha das pedras do Seminário! Foi há cerca de duas décadas que ficou para trás a bela e altaneira porta principal, dessa veneranda e inesquecível casa de formação presbiteral, onde pelas manhãs claras (e de nevoeiro), subíamos (e regressávamos) felizes do Largo de acesso ao Terreiro da Sé, cheios de tantas e marcantes recordações eclesiais e vocacionais - com molhos de espigas! Gostámos mesmo muito de sentir os lindos espaços e o ambiente humano de bom acolhimento, com algumas novidades, das refeições no refeitório a um oratório de silêncio, no corredor dos finalistas, tão necessário neste tempo. Foi-nos muito grato rezar e celebrar, com as belas cantorias dos seminas, na Capela do Seminário, revendo a inscrição 1862 - 1962, de memória da fundação, e olhando bem para a sua Padroeira e para o Bom Pastor e Servo - Senhor da casa, coração de Dioceses, com esperança em pastores servos.

Assim sendo, no pretérito dia 28 de Setembro, arregalámos os olhos quando atravessámos o Douro, do Barredo e das pontes, que olhámos inúmeras vezes da varanda de S. João de Brito a correr gaiteiro ou pesado para o mar dos sonhos e das lágrimas. Por via das coisas, era imperdoável não levar na sacola a fonte principal da Água Viva - a Escritura Sagrada, em especial o Novo Testamento, no qual fisgámos algumas passagens vocacionais e sobre a pobreza evangélica, bem saborosas, ruminadas e para comer outra vez e muitas mais, propostas a corações jovens à procura do Pastor eterno e Servo sofredor. Do Magistério da Igreja, foram guias também os documentos basilares do II Concílio do Vaticano e a bela Encíclica Pastores dabo vobis. De exemplos presbiterais, foi-nos sugerido (e bem) o Servo de Deus Padre Américo! - cujos escritos certeiros e muito actuais são testemunhos de uma vida radical como amigo de Deus e servo pobre dos pobres. Da nossa experiência de vida e pastoral, também desfiámos algumas histórias sentidas de momentos fortes e radiantes em veredas e no Caminho da Luz!

O tema principal dos trabalhos, em dois dias de indispensável silêncio, foi apontado e por nós alargado e burilado, com a devida antecedência e prudência: Da Fé do Seminarista à Pobreza sacerdotal. Estava mesmo à porta o Sínodo dos Bispos, sobre os Jovens, a Fé e o discernimento vocacional. No Instrumentum laboris, foi realçado um dos objectivos: acompanhar os jovens no seu discernimento vocacional e nas escolhas fundamentais das suas vidas. O elemento-chave para interpretar o dinamismo vocacional é a consciência e muitos jovens pedem ajuda para interpretar os acontecimentos da sua vida à luz da fé. Numa dúzia de países europeus analisados, num estudo para informar os trabalhos, o facto mais significativo foi este: mais de metade dos jovens afirma não se identificar com nenhuma religião. Certos jovens desejam fazer a experiência de Deus e procuram conhecê-lO melhor; porém, a pergunta da ligação a Deus vai acontecendo fora dos vínculos tradicionais.

Não será despiciendo trazer algumas linhas simples desses encontros, para estas colunas nascidas do coração e da pena de Padre Américo, que sangrou até ao fim pelos últimos: Desde Julho do ano de 1929, em que me tornei sacerdote, nunca mais deixei de frequentar e servir o quinhão que Deus me destinou pela sua misericórdia. É uma ligeira partilha para ajudar a meditar por estes dias, em que a Igreja presta mais atenção aos seminaristas e às equipas formadoras - a Semana dos Seminários. O tema em foco este ano - Formar discípulos missionários - salienta este aspecto fundamental: A ideia de fundo é que os seminários possam formar discípulos missionários, enamorados do Mestre, pastores com o cheiro das ovelhas, que vivam no meio delas para servi-las e conduzi-las à misericórdia de Deus.

Padre Manuel Mendes

Continua no próximo número