PÃO DE VIDA
Com o Bispo
Não ando sozinho. Quero viver da obediência aos Bispos; alimentar-me da autoridade deles
como as crianças nos seios das mães se alimentam da substância delas.
Fora da Igreja, nada de grande; contra ela, muito menos.
Padre Américo
A Santa Igreja tem chamado persistentemente, também na linha centenária do movimento ecuménico, à oração e reflexão pela unidade dos cristãos. Neste caminho muito difícil para ajudar a contemplar o verdadeiro rosto de Jesus Cristo, desfigurado pelas divisões, é fundamental a figura concreta do ministério universal da unidade cristã (petrino), uma presidência de Caridade, segundo Santo Inácio de Antioquia, que também afirmou sobre o ministério episcopal: Ninguém faça, à margem do Bispo, nada do que diga respeito à Igreja - nihil sine Episcopo. O II Concílio do Vaticano (1965) também convida os cristãos à unidade eclesial, assim: Quanto aos fiéis, devem viver unidos ao seu bispo como a Igreja a Jesus Cristo e Jesus Cristo ao Pai.
Toda a Igreja é herdeira da Igreja apostólica. O actual ministério ordenado funda-se na sucessão apostólica e é herdeiro do mandato missionário dado por Jesus Cristo aos Apóstolos, revestindo-se de especial significado o gesto da imposição das mãos. É interessante o testemunho de S. Paulo aos Tessalonicenses: Pedimo-vos, irmãos, que tenhais consideração para com aqueles que entre vós se sacrificam para vos dirigir no Senhor e vos admoestar.
O Padre Américo, como homem de Deus e pastor da Igreja, teve ideias e práticas muito claras sobre as fontes e a tradição eclesial. O seu espírito de fé viva levava-o a ver o Bispo como representante de Cristo com a direcção de uma Igreja local. Uma vez, ao serviço dos pobres, chamado a contas pelo seu Bispo de Coimbra, foi ao seu encontro e D. Manuel Luís deu-lhe esta resposta pronta e textual: a sua vida é um mistifório.
Mais tarde, no final de 1950, numa Nota da Quinzena, sobre uma reforma enérgica e radical dos emolumentos, a exemplo de Mons. Tedde, Bispo de Ales e Terralba (1948-1982), deixou esta viva e séria recomendação para memória futura: Em boa hora se fugiu à ideia, desde o começo, de fundar uma congregação religiosa de padres para a Obra da Rua; e desta sorte é ela, a Obra da Rua, uma obra social da Igreja, aonde os nossos Bispos estão em sua casa. A única, hoje, em Portugal. Nós somos dos nossos Bispos e eles são da Obra. Não temos voz. Não temos privilégios: não usam hábito. Não fazem votos. Não têm residência (Constituições íntimas da Obra). Somos os desamparados; nem família, nem amigos, nem interesses, nem campos, nem nada (idem). Trabalhamos assim mais. Produzimos melhor. Acendemos fogueiras. Libertamos o Evangelho. Fazemos barrela. Os coxos andam. Os cegos vêem. Os surdos ouvem. Os oprimidos recebem a Boa Nova; e felizes os que não se escandalizam com aquilo que nós fazemos e dizemos.
Com estas considerações a propósito e de tamanha responsabilidade, não restam dúvidas que a missão eclesial na Obra da Rua é servir a Igreja em nome do Bispo e em união com ele. Assim sendo, pelo Natal, o Bispo de Coimbra D. Virgílio Antunes, do seu punho, enviou-nos estas palavras: Um grande abraço para toda a Comunidade, na esperança de que se sintam muito abençoados por Deus. Agradecido pelo serviço à Igreja e à humanidade na pessoa dos mais pobres. Certo é que acabou por vir, como o Bom Pastor, ao encontro pessoal desta porção do rebanho, com cordeiros feridos, rodeados por belos prados de semeadura, para testemunhar a sua proximidade e bondade.
Historicamente, entre outras, está documentada no Memorial da Obra uma visita significativa do Bispo de Coimbra, D. Ernesto, à Casa Mãe, a 6 de Setembro de 1953, com a presença feliz de Pai Américo e da Comunidade. Nos últimos anos, foi sentido o encontro com D. João Alves no seu leito de dor, hospitalar. E D. Albino Cleto marcou a sua presença em momentos difíceis.
É muito reconfortante para uma Família como a nossa, na fidelidade à Igreja, sentir o incentivo próximo de um aperto de mão forte para prosseguirmos no caminho de serviço aos Pobres, como Jesus mandou: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes.
Ficou bem patente que o pastor da diocese conimbricense, como fez Jesus, o Bom Pastor, chamou e olhou cada uma destas ovelhas pelo seu nome; e não deixou de dizer para estudarem, tal como em palco mostraram bem a sua alegria!
Padre Manuel Mendes