PÃO DE VIDA

Peregrinos da Luz

Eu amo a Igreja por Ela ser quem é!

Padre Américo

Nos corações dos milhares de peregrinos de Fátima e dos milhões de fiéis que acompanharam pelos meios de comunicação social e redes sociais a peregrinação jubilar de 12 e 13 de Maio, ficaram gravados miríades de belas imagens, interpelantes mensagens e gestos significativos, em especial do Papa Francisco. Do essencial que deixou aos portugueses e à Igreja, continuamos a meditar aqui mais passagens, relidas, aproveitando ensinamentos do Peregrino da esperança e da paz. Depois, revisitaremos o miolo de uma homilia (em 1952) do peregrino dos pobres - Padre Américo, que também ficou na memória e no coração de quem o escutou.

O Pastor da Igreja, na bênção das velas, proclamou bem alto o primado da misericórdia de Deus, que não nega a justiça, porque Jesus tomou sobre Si as consequências do nosso pecado [...]. Assim, na fé que nos une à Cruz de Cristo, ficamos livres dos nossos pecados. Na homilia da Missa, é claríssima a centralidade de Cristo e a protecção de Maria: Assim, não subimos à cruz para encontrar Jesus; mas foi Ele que Se humilhou e desceu até à cruz para nos encontrar a nós e, em nós, vencer as trevas do mal e trazer-nos para a Luz. Afirmou, ainda: Quando Jesus subiu ao Céu, levou para junto do Pai celeste a humanidade - a nossa humanidade - que tinha assumido no seio da Virgem Mãe, e nunca mais a largará. A mulher revestida de sol, do Apocalipse, é a Mãe (!) que veio lembrar-nos a Luz de Deus que nos habita e cobre. Numa belíssima oração à Mãe de Jesus, glosando a Salvé Rainha, suplicou assim: No mais íntimo do teu ser, no teu Imaculado Coração, vê as dores da família humana que geme e chora neste vale de lágrimas.

Seria tão lindo que o Sucessor de Pedro algum dia chegasse a ler palavras de Padre Américo, tão actuais, porque tiradas do Evangelho. É transcendente e comprometedora a missão eclesial, no mundo, testemunhada nas obras de misericórdia, conforme este grande profeta do nosso tempo escreveu, com fidelidade à Igreja, em Março de 1951 (!): A Igreja! A força irresistível da Mãe! Quem é que ensinou a ler? Quem deu o pão? Quem curou feridas? Quem arroteou? Como gosto de mergulhar nestas verdades! Vinte séculos não a perderam. Outros tantos não a perdem! A Mãe! É por amor dela que os Pobres de Paço de Sousa têm hoje a sua casinha, só por Ela./ [...] É Ela, a Mãe, que veste, que agasalha, que ampara, que dá os seios. Não é mais ninguém./ Nem apostasias, nem deserções, nem fraquezas - nada. Nada lhe toca. Nada a diminui. Ela é a Mãe. Estes homens o disseram. Também aqui se canoniza...!

Em 22 de Dezembro de 1956, já no Reino dos céus, foi dada à estampa no seu Jornal uma oração de Padre Américo em Fátima, a 13 de Maio de 1952, acenada anteriormente. Reza assim na nota introdutória: Um encontro feliz deu-nos oportunidade de transcrever a gravação. Há algumas falhas que nem retocamos para não profanar. Confrontámos o texto com a gravação original, escutando a sua pregação com argumentos evangélicos da Teologia da presença de Jesus Cristo, vivo também no Pobre. Eis, então, para nossa meditação os primeiros minutos desta homilia: Será uma oração de dez minutos./ Neste monte sagrado pela presença da Virgem Mãe de Deus, e consagrado pela [fé de todos nós]./ É por obediência que venho aqui./ Será uma oração [,digo,] de dez minutos./ De mãos postas eu digo diante de todos: nós acreditamos na presença de Jesus Cristo vivo no mundo. E de duas maneiras acreditamos na Sua presença porque ambas são objectos da nossa fé./ A primeira presença que afirmamos e acreditamos é o Santíssimo Sacramento da Eucaristia!! Escondido sim, mas vivo!/ E a segunda presença que nós afirmamos e acreditamos é no Pobre abandonado. Escondido sim, mas vivo!/ E assim como S. Paulo no seu tempo dizia a quem o escutava que não sabia dizer mais nada, nem sentir mais nada, nem viver mais nada senão somente Cristo, assim eu também hoje pela missão que Deus me confiou entre os mortais, eu digo que não sei viver mais nada, nem sentir mais nada, nem falar de mais coisa nenhuma senão do Pobre e este crucificado./ Perdoai a minha insipiência, irmãos./ Perdoai [...]./ Vamos curar as feridas dos Pobres e assim damos testemunho de Cristo. O samaritano é o único que ganha todas as partidas. O samaritano, irmãos, vive. Dele falou o Mestre. Naquele tempo passaram os grandes, os grandes daquele mundo. Passaram os ocupados com a grande vida sua. Passaram os bem instalados. Os comerciantes de todos os artigos daquele tempo que se compravam e se vendiam, e esses ficaram na História como quem passa. Passou o Samaritano./ Este era estrangeiro, mas curva-se, cura a ferida daquele estropiado. Tinham passado também os sacerdotes, passou um e passou outro, não juntos, foi um de cada vez. E pensavam da mesma maneira: errada. Eram da antiga Lei. Jesus Cristo é severo nos seus ensinamentos, e o samaritano, irmãos meus, e o samaritano foi pregado. Foi anunciado. É hoje anunciado aqui a esta multidão. Só ele vive, tudo o mais vegeta./ Queridos irmãos, desculpai a minha insipiência./ Talvez seja bárbara esta doutrina, mas eu não sei outra. É o meu alimento, é a minha vida./ Faz assim e vives.
Padre Manuel Mendes