BENGUELA
Vamos amar os nossos irmãos...
Os pobres batem à nossa porta muitas vezes, porque têm fome. Esta presença é um verdadeiro clamor que representa a multidão dos que vivem nos bairros, verdadeiramente abandonados. Há poucos dias, passámos, de surpresa, por uma localidade, onde deparámos com grande quantidade de barracas, habitadas por famílias com uma multidão de filhos. O meu coração ficou prostrado, perante a miséria extrema que tinha diante dos olhos. Há um caminho único a seguir: dar a nossa, e vossa, mão a estas mãos estendidas, para salvar as vidas destes filhos. Há um princípio que deve orientar o viver diário de cada um de nós: Reconhecer aos pobres o direito de receber o pão, que não têm, para a sua subsistência. Esta atitude significa o compromisso, até ao fim, com as exigências do amor. Por outras palavras, cada um de nós deve viver a disponibilidade absoluta para se fazer irmão dos mais pobres entre os seres humanos.
Este projecto deve constituir a maior riqueza dum coração verdadeiramente humano. Deste modo, estaremos a construir um mundo com dignidade. Vamos para a frente! Doutro modo, poderemos não compreender ainda que a injustiça estruturada é um verdadeiro crime e não advertimos a nossa responsabilidade pessoal. Não podemos calar o mal e, sobretudo, deixar de fazer o bem. O testemunho duma solidariedade total com os pobres de sempre e, dum modo especial, com os que batem à porta do nosso coração, é uma condição essencial para a nossa existência feliz. Vamos amar os nossos irmãos pobres, dum modo especial, e partilhar com eles o que possuímos que não é apenas nosso.
Todos os dias, logo de manhã cedo, é habitual a presença dum grupo de doentes, mais ou menos numeroso, a pedir ajuda para a consulta médica e a compra dos medicamentos. Acolhemo-los com o vosso, e nosso, coração. Buscamos, de igual modo, uma farmácia amiga que vende os medicamentos com preço mais acessível. Há dias, um benfeitor cruzou-se comigo e pôs nas minhas mãos a sua ajuda financeira, quando me dirigia para a farmácia, à busca dos medicamentos. Foi o Pai do Céu que veio ao encontro dos nossos doentes e nos entregou o dinheiro necessário para a referida despesa. Estes momentos são, na verdade, um foco de luz e uma fonte de energia para o exercício do Amor. Todos devemos comprometer-nos, realmente, nas tarefas da solidariedade humana.
Hoje, é Domingo. Como habitualmente, os mais pequeninos, após o pequeno almoço, vêm ter comigo para irmos à praia. Não foi possível, desta vez, porque estava marcado, hoje, o dia da reunião dos Chefes da comunidade da nossa Casa do Gaiato. Compreenderam e foram entreter-se com outras brincadeiras. Este convívio familiar é um momento muito interessante da nossa vida. Como sempre, a reunião regular dos Chefes da comunidade é o momento em que reflectimos sobre a situação dos membros da nossa comunidade e o papel educativo desempenhado por este grupo de irmãos, escolhidos entre os membros desta família da Casa do Gaiato, para dar a sua ajuda aos outros irmãos. O caminho percorrido não foi perfeito, com o comportamento desejado. Vamos, contudo, caminhar sempre com muita esperança.
A escola continua a sua actividade na preparação destes filhos que, doutro modo, estariam perdidos. Durante a semana passada, uma greve paralisou os serviços escolares. A Escola da Casa do Gaiato de Benguela, porém, não foi atingida. Foi um bem para as centenas de alunos que a frequentam. Continuamos, também, à espera dos empregos para o grupo de rapazes mais velhos. Será a porta aberta da nossa Casa do Gaiato de Benguela para o acolhimento doutros filhos abandonados que vivem na rua a clamar por socorro. Uma empresa, felizmente, abriu as sua portas a um destes filhos mais velhos. Vamos continuar a bater às portas doutros centros de trabalho. É, sem dúvida, um problema social muito grave a situação dos filhos abandonados pelos pais. Vamos continuar com o nosso coração aberto e pedimos aos vossos corações o grande amor necessário para salvar estes filhos, juntamente connosco. Recebei um beijinho dos filhos mais pequeninos da nossa e vossa Casa do Gaiato de Benguela.
Padre Manuel António