OS NOSSOS LIVROS

Lançamento da 3.ª edição

Obra verdadeiramente revolucionária esta de casas para Pobres, sem lhes pedir nada por elas — porque Pobres. Voltamos aos tempos em que a terra era de todos e os seus frutos também. A Caridade recupera o que a chamada civilização perde. É a revelação de Cristo! Ele tem havido descobertas e inventos, que produzem revoluções nos costumes e nos modos de viver; sim. Tem havido. Porém, esta do Património dos Pobres, é de natureza diferente. Cristo é hoje como ontem e sempre. A Luz que Ele é, não vem ter connosco de repente, nem a todos ilumina da mesma sorte; mas por onde passa vibra, agita, perturba, inquieta, ascende — revoluciona. Toda a obra embebida n'Ele, causa nas almas esta sorte de revolução. Não se compreende nem se aprecia totalmente a beleza destas casas, sem ter conhecimento prévio do sítio de onde vieram os seus moradores e da vida que ali levavam.

[…] Há episódios da vida do Pobre, que são verdadeiramente pinceladas de beleza e levam-nos a enaltecer e amar cada vez mais esta Obra de todos, porque de Deus. Ontem foi a véspera e eu estive na cortelha de uma família que no dia seguinte se mudava para a sua casa. Primeiramente consideremos a alegria. Esta era tanta, que a mãe dos nove filhos, tendo já visto e estado aonde a casa era, dizia-me que não acreditava! Como esta, só temos a alegria da Ressurreição. Os apóstolos viam e tocavam o corpo de Jesus ressuscitado e não acreditavam. Depois temos o heroísmo. O heroísmo desta mãe de família. Tinham-lhe dado um alqueire de milho e ela não o quis mandar moer sem chegar a última hora e explicava; milho não podemos comer, mas farinha, sim. Uma data de crianças sujas e esfaimadas ouviam a sentença da mãe, com olhos de quem pedia pão e esta, heróica, respondia: amanhã. Voltando-se para mim, ia dizendo que desejava ter uma fatia de pão para cada filho, na hora de entrar para a casa nova. Por isso era tão dura e tão inflexível. Nem os filhos! Amanhã comemos pão. O banquete a condenar os Banquetes!

Assim vamos semeando a terra portuguesa e cultivando nas almas o amor do próximo. Nunca vi escrito em nenhum livro, nem sei de profecia que nos diga ou marque distância tão anormal como esta que hoje se abre de homem para homem! Não sou capaz de ver com bons olhos, nem compreendo como tem sido possível deixar cair de tão alto e viver tão magoado o nosso semelhante, sem fazer das dele a nossa mágoa. Tenho para mim que todos os homens de boa vontade estão comigo neste parecer; e como é verdade que nós levantámos a voz, denunciam o perigo e estamos dando remédio, todos nos escutam e simpatizam e ajudam. Não somos nós todos de um só baptismo? — Pai Américo, Ovo de Colombo, p. 57-59

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