Moçambique
Responsabilidade e conforto
São seis e trinta da manhã. Alguém bate à minha porta com muita aflição. É
o chefe maioral. "Mamã, o Luís, Marcelino e Nelson não estão em Casa. Saíram em
direcção ao refeitório, mas não chegaram lá. Pedi aos colegas que fossem até à
casa, mas nada. Até agora ninguém os encontrou!"
Ao olhar para eles e os colegas, senti uma grande preocupação pelos fugitivos. Logo surgem muitas ideias. "Vamos sair nesta direcção, outros saem assim e outros para aquele lado, eles estão aqui perto..."
Resisti e deixei-os à vontade para encontrarem as suas soluções em busca dos irmãos.
Cada um tinha ao seu lado alguém com comunicação, outro mais esperto pediu-me o carro, afirmando com muita segurança, "eles vão passar pela estrada que cruza com todas as saídas". Passados 15 minutos os fugitivos foram apanhados e foi grande alegria para todos.
O Nelson foi o autor da "armadilha". Chegou há pouco tempo da Rua, e ainda não conseguiu perceber que, para crescer, são precisas regras. Horário para acordar, comer, escola, actividades, e sobretudo que esta é a casa dele. Preferiu andar na rua e ser um instrumento de pena para aquelas pessoas que não têm consciência e limitam-se a tratá-lo como o "coitadinho" ...
E os outros foram vítimas da aventura do colega.
Quanta tristeza senti pela angústia dos seus irmãos naquele momento! E mais uma vez sinto uma profunda indignação pelos que fogem à responsabilidade de olhar para as crianças com respeito e ouvi-las, limitando-se, apenas, a colocar em suas mãos o que mais lhes apetece, alimentando os seus vícios.
Os irmãos, conscientes que aquela aventura poderia estragar a vida deles, fizeram a sua parte. Que alegria! O que mais queriam era que os irmãos voltassem para casa.
O Nelson tem a sua mãe, infelizmente muito doente, e esta é já a quarta vez que tenta desencaminhar os seus irmãos para as aventuras da desgraça. Foi decidido que ficasse por alguns dias junto da sua mãe.
Levei os outros junto de um quadro do Pai Américo e lhes perguntei em que pensou o Pai Américo quando fundou as Casas do Gaiato. Olhavam para o rosto do Pai Américo a sorrir para eles e as lágrimas começaram a cair sem controlo. Timidamente, passados alguns minutos, olharam para mim dizendo: "Ele pensou em todos nós". Estavam a sofrer. Perceberam. "Mamã desculpa". Deixei-os alguns minutos perante o quadro a pensar...
Estamos no mês do Pai Américo, todos os dias temos filmes, textos e muitas perguntas. É tão evidente o conforto que os meninos sentem em pensar que este Pai continua presente através daqueles e daquelas que continuam a sua Obra.
Sábado recebemos um grupo de mais de duzentos jovens entre raparigas, rapazes e adultos, vindos de cinco paróquias de Maputo. Vinham passar o dia na nossa Casa e trazer as suas ofertas. Pediram muitas desculpas pois as roupas que trouxeram eram todas para menina. Não sabiam que esta Casa é para rapazes. Quanta tristeza sinto pela nossa Igreja não estar perto da nossa realidade! A nossa Casa é de rapazes para rapazes e pelos rapazes. Foi assim desde o seu início e continuará fiel a este princípio até o fim dos tempos. O Padre Américo dizia: "A Obra vai começar verdadeiramente após o meu desaparecimento físico."
Nas nossas angústias e aflições - que só Deus é que sabe - o nosso Pai
Américo interceda por nós, seus seguidores/as.
Quitéria Paciência Torres