MOÇAMBIQUE

O ano lectivo iniciou. A Casa está cheia. Temos capacidade para 146 rapazes. Actualmente temos mais de 150. Os pedidos não param, todos os dias aparece mais uma desgraça. Vivemos numa sociedade onde ter filhos, é ter "sorte". Não importa as condições em que vão viver. A maioria dos que chegam, não tem pai nem mãe, mas nas suas mentes esta realidade ainda não está assumida. Vivem em famílias alargadas, onde o agregado familiar chega a mais de 20 pessoas e as crianças não têm referências. Não conhecem a sua própria história.

A semana passada vieram os do Infantário da Matola. Em 2017 pediram 7 vagas, mas trouxeram 12 crianças, que estão no Infantário à mais de dois anos, abandonadas, órfãs ou vítimas de maus-tratos. Foi muito difícil identificar prioridades. Tivemos que pedir ajuda ao grupo de chefes. Todos, após ouvir a história de cada uma, diziam que eles deveriam ficar, mas não nos podemos deixar levar só pelo coração. Desta vez, ficou o mais pequenino, Rafito, de 3 anos, com o seu irmão Denire, de 10 anos, e o Mário, de 7 anos. Os outros, foram acompanhados pelos nossos chefes, para sentirem o ambiente onde eles vivem. Voltaram angustiados, pois precisam sair daquele ambiente o mais rápido possível. Estão ali há mais de 2 anos. O número de crianças em situação de risco tem aumentado assustadoramente. Os nossos rapazes nas orações diárias rezam por aqueles que não têm uma família e pedem operários para a nossa messe. Pessoas que com muito amor queiram oferecer a sua vida aos rejeitados e abandonados pela sociedade. 

Recebemos um contentor da Casa do Gaiato de Setúbal. Que alegria! Quando abrimos as portas e começamos o descarregamento, os rapazes ficaram maravilhados. Colchões, tecidos, roupa, calçado, pneus, sementes, conservas, fotocopiadora, máquina de lavar a roupa...enfim, toda a lista que tínhamos feito, estava ali dentro arrumada com muito carinho. A alegria maior, foi ver as embalagens com o quadro de volta à nossa Capela.

Muito obrigado a todos que colaboraram com o seu trabalho e doações, e um obrigado especial ao Senhor Arquitecto João Neves por ter recuperado o nosso quadro da Capela. Já está colocado e a nossa Capela voltou a ter a beleza da inspiração do Criador.

Aos rapazes da Casa do Gaiato de Setúbal e ao senhor Padre Acílio, um "Khanimambo Xikwembu Xanga" (obrigado meu Deus).

Quitéria Paciência Torres