MOÇAMBIQUE

Com um ar cansado pelo sofrimento da vida, aparece em nossa Casa um senhor idoso e triste, onde a priori dizia ter 68 anos, com duas crianças, acompanhado pela Assistente Social. Pensei que fosse mais um caso de crianças em que os pais perdem a vida e ficam aos cuidados dos avós ou da aldeia. Era ele o pai dos rapazes, Sr. Lucas. Perguntei quantos filhos ele tinha e logo respondeu: «com esta esposa tenho quatro, duas meninas e dois meninos. A idade deste mais velho não lembro, o mais novo também não e mesmo a minha tenho dúvidas, pois naquele tempo não haviam registos e eu não fui à Escola». Meu Deus! Senti uma profunda
tristeza.

A senhora da Acção Social, que acompanhava o caso, tirou os cartões de saúde e explicou: «este é o mais velho, seu nome é Meque, tem 12 anos, e o mais novo tem 3 anos», mas este não tinha nome e quando perguntamos à mãe, ela disse: "Zandie". Os dois não trazem nenhuma documentação. Temos que recorrer à Acção Social do Distrito e ao Tribunal para regularizar esta situação. E, assim, são quase todas as semanas em nossa porta. Por cada rapaz que temos que regularizar a sua documentação são 100€.

Todos os dias ouvimos relatos de novas leis de protecção ao menor, estão preocupados com leis e são leis para tudo. O respeito pelo outro, motivando os valores éticos e morais tornam-se cada vez mais distantes. O bem mais precioso que Deus colocou no mundo, que é o ser humano, vive à deriva, à espera que apareça um samaritano e este acaba tendo que obedecer às leis do homem.

Zandie foi logo para o refeitório e os manos à volta a recebê-lo com muito carinho. A seguir, foi ao banho e, para surpresa, tinha nos pés chinelos iguais. Os manos vieram logo pedir outro par de chinelos e mais um de sapatilhas. Que alegria ver o Zandie a dançar por ter colocado sapatilhas pela primeira vez. Os seus olhos brilhavam e todos à volta aplaudiam o pequeno a dançar. Naquele momento pensei em tantos que passavam à beira de Jesus, como Ele costumava aproximar aos seus e com especial atenção aos que mais precisavam de compaixão. Sua preocupação era ser testemunho vivo indo ao encontro das necessidades.

Saibamos ser cristãos, deixar o nosso coração livre dos preconceitos e descriminação, Ele é o Senhor de todos. Dos que têm e dos que não têm nome.

Quitéria Paciência Torres