MALANJE
Mamórias de Maputo
Um dia, regressava do campo e, ao chegar ao escritório da Irmã Quitéria, encontrei-me com um gaiato, o Mateus. O rapaz parecia ter uns onze anos. A Irmã explicou-me que teriam que mandá-lo para o Hospital de Maputo porque estava com as defesas baixas, fruto duma lista de doenças que não dá para contar.
Passados uns dias, fui visitar uma casa que acolhe meninas, em Maputo. São as Irmãs Mercedárias Missionárias, quem cuida delas. Uma missão saída das mãos do mesmíssimo Deus - dessas mesmas que tu vês na televisão - e que vi em directo, desta vez, sem anúncio, nem engano. A Irmã Cármen, uma aragonesa dos pés à cabeça, é a sua mentora.
Estando em Maputo, a Irmã Quitéria me pediu que visitasse o Mateus no hospital, pois já ali estava há vários dias. Eram os Rapazes que cuidavam dele, de noite e de dia não o deixavam um só instante. Pelo caminho ia a pensar e dizia a mim mesmo - vou perguntar-lhe o que posso fazer, comprar algo para comer ou beber que ele goste..., pensamentos que vêm à cabeça de um pai, quando tem um filho no hospital.
Quando cheguei, dei-lhe um beijo e perguntei-lhe... Mateus me respondeu, sem pensar duas vezes: - Papá, reza comigo. - Eu assenti com a cabeça. Ele, levantou-se da cama e sentou-se junto a mim. Começámos a rezar. Quando terminámos, dei-lhe um beijo, abracei-o e saí.
Neste momento, estou a preparar a minha mochila para ir a Espanha no dia 24 de Abril. Estarei com os meus Pais e os meus Irmãos, meus amigos..., e não poderei estar com todas as pessoas que amo por questão de tempo. Mas há um momento em que todos estarão no mesmo lugar ao mesmo tempo: no nosso coração, na nossa oração. No lugar onde nasce capacidade e se esconde essa capacidade de amor, que um dia Deus despertou. Porque, como se diz no livro ¿Quién puede hacer que amanezca? «Abrir os olhos pode levar uma vida inteira. O ver, é questão de um momento».
Padre Rafael