História da Casa do Gaiato de Maputo (Moçambique)

A OBRA DA RUA em Moçambique

Soou a hora de darmos a grata notícia. A partida está marcada para 20 de Outubro de 1967. Contamos, pois, chegar a Lourenço Marques em meados de Novembro, de forma a arrumarmos a casa em ordem ao seu começo oficial na próxima Festa do Santíssimo Nome de Jesus - 2 de Janeiro de 1968.
Não é um passo precipitado, mas arrojado, sim. Lourenço Marques será a 14.ª lareira acesa sob os telhados da Obra da Rua, à distância de milhares de quilómetros da outra mais próxima e de quantas vezes mais desta Casa-mãe onde estou escrevendo. Os padres da rua são nove e só Deus sabe quem tem para lhes acrescentar o número e o tempo em que o fará. Por isso digo arrojado este passo, embora o arrojo tenha por alicerce a Fé, a Fé no Deus que nos chama e nos não abandonará. Só o muito pensar e sentir a urgência de uma presença como a nossa em terras de Moçambique (onde não há ainda qualquer resposta para os problemas da Infância abandonada e delinquente), junto à vontade expressa da Igreja pela voz do Bispo da diocese, tendo como adjuvante a propiciação das condições materiais para a nossa instalação (sem que déssemos um passo por elas) - só isto nos decidiu a ir, a ir já, dando a partir do momento da decisão um testemunho de confiança na Providência, de Quem esperamos o pão-de-cada-dia e também quem o parta daquele que o Povo há-de repartir connosco.
De Bragança recebemos a promessa de um padre. Aguardamos o nascimento de uma vocação decidida, capaz de afirmar como um dos nove que ora somos o fez no alvorecer do dia do seu sacerdócio: «Quando morrer quero ir para o Céu. Quando for padre, para a Obra da Rua». Surgida ela temos a certeza de que a boa-vontade do nosso Prelado nordestino não há-de vacilar, mesmo por sobre as necessidades das terras da sua jurisdição, ao lembrar-se das necessidades incontavelmente maiores de outros nordestes, sejam o brasileiro ou em qualquer latitude e longitude.
Também repetiremos a diligência junto de um Instituto Missionário, de um outro padre, este vocação consciente o experimentada, que numa visão de Igreja à dimensão do Vaticano II, poderia render mais e melhor no posto que lhe fosse designado nesta Obra que também já é missionária.
De igual sorte iremos pelos Seminários que nos abrirem as portas espalhar a inquietação do Pobre, «do mais caído, do mais abandonado», o qual não pode ser servido eficazmente senão na participação da sua pobreza, assumida deliberadamente na nossa vida de padres.
Que o Senhor nos não chame a contas por negligência no recrutamento de soldados para a dilatação do Seu Reino, neste sector dos Pobres e numa hora em que parece ser Ele mesmo a tocar a rebate, chamando rios pela voz da Sua Igreja a terras de missão e de miséria, seja o nosso Ultramar africano, seja aquele outro do lado ocidental do Atlântico Sul, onde se fala a nossa língua e onde nos desejam a colaborar na evangelização dos Pobres.
É pois uma hora alta e feliz esta, em que revivemos as horas semelhantes que prepararam a nossa ida para Angola. Que a sua Irmã do Índico - agora marcada também por feridas que a ajudem a amadurecer - nos receba e nos deixe dar-lhe, na comunhão profunda, discreta e eficaz que tem sido a regra à beira do Atlântico.

in Obra da Rua