ERA O ANO I, N.º 14
O Filipe do Seixal
O Filipe vinha de calção branco, camisola às riscas, cabeça ao léu e mala aviada. Trazia um letreiro-escapulário, a pedir que o guiassem para a Casa do Gaiato. Dentro do seio, um sobresselente, à cautela. Trazia o texto de um telegrama e vinte e cinco tostões para o seu custo, o qual telegrama foi expedido imediatamente. Trazia outra moeda de prata, a qual num instante lhe desapareceu da algibeira, para assim não ser somente eu a queixar-me dos ladrões! E trazia uma linda história da barraca onde morava ao deus-dará.
Vem perfeitamente cru, este pequenino selvagem; nem escola, nem igreja, nem costumes, que esta é a vida do pardieiro. O Augusto recebeu a missão de lhe ensinar o abc do catecismo, até ao tempo escolar.
O semblante alegre do Tiro-liro é por saber que o peregrino fica. Quando outros têm de regressar, ele anda triste uma semana inteira. Ele é um ser estranho, impenetrável, cheio de opinião. É muito amigo dos pobres. Se algum bate à porta, Tiro-liro vai à cozinha e ali amarra, até que lhe dêem de comer: anda Carlos, que está lá um pobre. Se é um pequenino da sua laia, redobra de fervor. Ele dormiu ao relento anos de vida. Pelo bem que ora desfruta, mede a desgraça dos companheiros!
Pai Américo