ERA O ANO I, N.º 12
Comecei já a tomar contacto com as tocas dos bairros pobres, no Porto, e a escutar histórias dos seus habitantes; foi jeito que Deus me deu.
Preciso de trazer comigo largas munições, não para atacar inimigos, mas sim para consolar estropiados. Quero livros de senhas para os refeitórios das Cozinhas da Legião. Espero receber livros de senhas na volta do correio. Tenho de responder à confiança de aqueles estrangeiros que fielmente me procuram, quando passo nas ruas deles, intra muros da cidade. Tenho pena, sim, de dar espectáculo e ser notado, mas se não posso remover este mal, não quero, por causa dele, deixar de te fazer bem. Sim, fazer bem a ti, distribuindo a esmola que me confias.
De uma vez, acompanhava eu um ex-condenado à estação, a quem ia dar bilhete para a sua terra natal. Tinha sido lá dentro, e era cá fora, um revoltado. Passa um senhor e mete nas minhas as mãos dele - tome para os seus rapazes. Abri. Mostrei 500$00.
- Quem é?
- Não conheço.
- Quê?!
Não sei quem é. Tínhamos falado vezes sem conta, dentro da cela da Penitenciária. Eu tinha a desgraça de ser padre, a pior recomendação para o melhor dos homens; - nunca me quis escutar!
- Agora, sim, bom padre, que vejo e que sinto! - Faz uma leve pausa. Põe os olhos no chão e daí a nada irrompe: - Pois não tenho o direito de ser mau, se ele há no mundo gente tão boa!
Deixa-me ser o despenseiro fiel dos teus dons. Nem só quem leva a sopa fica contente; também fica quem a vê dar. Para combater o Mal - só o Bem.
Pai Américo