ERA O ANO I, N.º 18

Panorama Social

Às portas do Lar, em Coimbra, fui dar com um grupo de crianças esfarrapadas, à roda de uma mulher da mesma sorte.

— Fiquei viúva com 9 filhos!Panorama Social

Às portas do Lar, em Coimbra, fui dar com um grupo de crianças esfarrapadas, à roda de uma mulher da mesma sorte.

— Fiquei viúva com 9 filhos!

Eles estão ali todos. Trata-se de uma família da Serra, fugida ao desamparo das nossas aldeias.

—Quer ir para a sua terra?

— Oh meu senhor; lá não há ninguém que tenha pena.

Passa ali casualmente o Professor Elísio de Moura, com uma das suas pupilas pela mão. Pára. Escuta. Toma uma do grupo. Eu faço o mesmo a um. A viúva agradece e lá vai desnorteada, com os sete pela mão, a pregar ao mundo o nosso desmazelo, o nosso atrazo, a nossa sostrice, ali mesmo nas barbas da sala dos Capelos, onde doutores sublimes têm seus cadeirais para fazer discursos.

Tão pobre que nem camisa tinha, ela revelara de quanto houvera rezado e chorado, ao entrar naquela manhã, as portas de Coimbra; e é muito possível que ainda hoje continue errante por outras terras, a dormir com os filhos nos beirais, que os homens de agora, por muito civilizados, esqueceram-se que somos todos membros de um mesmo corpo - Jesus Cristo.

Chora e reza, a viúva da Pampilhosa da Serra! Talvez tenha sido pastora em pequenina, tanto o amor que ora mostra, pelo rebanho que traz. Se tens alguma camisa a mais ou pano de que a possa fazer, manda para a redacção do Gaiato. Quem sabe se ela dá volta e regressa ao mesmo sítio, mostrar o sangue das feridas; - que ele é mais fácil fazê-las do que curá-las!

Eu fico de mãos postas, à tua espera. 

Pai Américo