DA NOSSA VIDA

Em Família

A parte da nossa família que está em Moçambique, a quatro dezenas de quilómetros da capital Maputo, tem estado no centro das nossas atenções. O motivo não se deve a qualquer especial predilecção, já que todas têm igual merecimento dos nossos cuidados, mas à sua principal necessidade de um padre que seja o pai da família e dos rapazes que a ela pertencem.

Na família, como sabemos, os seus membros encaixam nela das mais variadas formas, todos são diferentes e, por isso, põem expectativas e participação nela consoante as raízes que criaram e a solidez que lá mantêm, numa troca de vida que será verdadeira se o verbo servir for conjugado sempre no presente e em todas as pessoas.

A família é também uma realidade em permanente mudança: se hoje há um novo membro que dela passa a ser parte, amanhã há outro que se afasta, temporária ou definitivamente, do contacto directo com todo o grupo familiar.

Estas mudanças na família, embora possam criar um estado de crise, não podem ser causa que dê força para a destruir. Decerto que é necessário que os seus membros se ajustem às mudanças que a realidade mostra, todos têm que desinstalar em si alguns sentimentos e disposições que estavam assumidos interiormente como se definitivos fossem. É o dinamismo que a vida impõe, de outro modo não seria vida.

Este é todo um processo que compete à própria família conduzir, e que só pode admitir a interferência de estranhos se por ela forem solicitados. Ainda assim, um estranho, por muita boa vontade que tenha, não deixa de ser um estranho para a família e até para si mesmo naquele ambiente que não é o seu ambiente natural.

Por graça de Deus, da qual a nossa Obra nasceu e vive, veio o Padre Fernando dar-se-lhe, já com um bichinho interior a roer pelas terras onde a nossa Casa de Maputo está. A necessidade era evidente e a hora era chegada. Padre Fernando está já no meio, onde a vontade de Deus anda mais depressa que a resposta dos homens no acolhê-la. Como Simeão, que acolheu o Menino Deus em seus braços, em sintonia no tempo e no espaço com a vontade de Deus, não há muitos. A maioria demora tempo a vencer a inércia, consequência da fragilidade humana.

Mas não é só esta parte da família da Obra da Rua que nos inquieta. Também o Calvário vem sofrendo há muito tempo de semelhante carência, e nós, embora confiantes, ainda não vislumbramos quem venha juntar a sua vida neste nosso braço familiar, dando-se para que ele tenha mais vida. Esperamos a hora de Deus, que chegará. Até lá vamos cumprindo, sendo certo que não demorará.

Padre Júlio