DA NOSSA VIDA

Pela intuição

 A vida da Casa do Gaiato não se deixa condicionar por nada: «Não há sistemas. Não há regras. Não há estatutos. Há a intuição». Assim reza o n.° 86 das Normas de Vida dos Padres da Rua. Então, até onde vai a sua autonomia? Vai até onde o que faz, seja obra de Caridade. Este é o limite. Como se objectiva este limite? «A alma da Obra da Rua é a Caridade, a qual informa um corpo de natureza assistencial, cuja existência no seio da sociedade civil lhe determinou os estatutos civis aprovados e abençoados pela Autoridade Eclesiástica, pelos quais a Obra se tem regulado e continuará a reger-se no foro civil.» (n.° 67)

Podemos então dizer que o corpo e a alma, as obras e o espírito, o viver e o morrer estão em sintonia, justificando-se e validando-se mutuamente. Daqui nasce a intuição que conduz a vida derramada na Obra da Rua, «com a intenção de que o mundo veja e glorifique o Pai Celeste» (n.° 66). Reflectido em quem? «A Obra da Rua é uma correspondência à fome e sede de Justiça de tantos de quem os "padres da rua" comungam a dor. (n.°69) «Deus quer que pela nossa oração e acção se indique ao mundo o caminho da Verdade.» (n.° 70)

Dentre estes «tantos» a «Obra da Rua prefere os mais repelentes, os mais difíceis, os mais viciosos. A Obra nasceu com este espírito e assim tem de continuar». (n.° 83)

O padrão da Obra é a família, com a participação activa de todos os que lhe pertencem: «A Obra da Rua é o amparo dos mais abandonados, que ela procura levantar com o próprio concurso dos assistidos. (n.° 77) Obra de Rapazes, para Rapazes, pelos Rapazes. «Nunca se ocupe o estranho em trabalhos que possam ser feitos por eles. O brio; a iniciativa; a personalidade - tudo procede daquela fórmula.» (n.° 92)

Pai Américo derramou a sua vida na Obra da Rua até ao fim: «sangue contra sangue». Todos quantos se lhe queiram dedicar em sentido estrito, como definem as Normas de Vida dos Padres da Rua no seu n.° 50, mergulham a vida no ser da Obra, «fundem nela as suas vidas», gastam-se ao serviço dela «sem esperança de outra recompensa senão a de Deus», «ambiciosos apenas da perfeição e do prémio eterno a que esta conduz». Todos estes são da Obra e o seu motor, nenhum lhes é estranho. São ainda da Obra em sentido lato todos os que com ela cooperam, de dentro e de fora dela, e todos os que ela
serve.

Aos «"padres da rua" compete dirigir a Casa ou Casas de que foi entregue, na instante procura de fidelidade ao espírito e métodos do Fundador.» (n.° 43) Para além deles e de todos os anteriormente referidos, são elementos estranhos à Obra, a quem não é dada parte nesta comunhão de vida. Como diz o n.° 61 — «Lembrem-se os "padres da rua" e demais membros da Obra, que a autoridade vem de Deus e não há senão um só Mestre e Senhor, Jesus Cristo, a Quem o Orientador da Obra representa.» A intuição, para além da profunda comunhão de vida, nasce também do dom do Espírito, O prometido.

Padre Júlio