DA NOSSA VIDA
Tríade
Se é certo que todo o homem tem inscrito no seu coração profundos desejos de liberdade, não é menos certo que estes desejos não encontram maiores horizontes de realização que na relação com Deus. Ele é quem mais ampla liberdade concede ao homem, de tal modo que, em situações aflitivas, as pessoas se interrogam muitas vezes pondo em causa a Sua existência ou o Seu interesse por elas. Em todo o caso, é em liberdade que o homem melhor realiza os desígnios da sua vida.
Os homens mais santos são também aqueles que mais liberdade concedem ao seu semelhante na relação recíproca, confirmando assim a sua maior e melhor semelhança com Deus.
Pai Américo foi um homem que determinou a sua vida em liberdade, e um pai e pedagogo que estabeleceu a vida com os seus Rapazes nesse ambiente. Eu, da minha mesa, como o caldo e observo os graciosos movimentos do rapaz. Em mais nenhuma parte que não fosse aqui, ele poderia jamais fazer isto que faz; não teria a sua caixa, não teria os seus tesoiros, não teria liberdade. Faltar-lhe-ia a posse da vida e o gosto de a viver. Aqui, não. Aqui tem tudo. E também de responsabilidade. Disse ò chefe que o despedisse com dinheiro suficiente para ir ter pelo seu pé à Casa do Gaiato de Paço de Sousa. Coloque-se o homem em liberdade e ele que se determine. (...) No dia seguinte, manhãzinha, (...) dava entrada livremente na porta aberta da nossa Aldeia. Mas, onde o limite? Dê-se liberdade de pensar e de agir, somente aonde for mortalmente errado é que se deve levantar a voz e a mão.
Antes, enquanto homem do mundo, tal como a generalidade dos homens, Américo de Aguiar usou a sua liberdade para procurar melhor qualidade de vida para si, buscando-a e encontrando-a em paragens longínquas da sua terra natal. Os horizontes da sua vida estavam principalmente na satisfação dos seus interesses, embora não esquecesse as necessidades dos seus e dos pobres da sua terra. Estas últimas, que eram nesse tempo a sua menor motivação, foram crescendo no seu íntimo com o passar dele, a ponto de se tornarem o centro dos seus interesses. Foram «as marteladas» que o recentraram e colocaram definitivamente no novo sentido da vida: Tudo guardo no meu coração. Tudo aproveito. De tudo faço vida. A vida que se perde - para ganhar a vida.
Este perder para ganhar conjugava-o pelo verbo dar. Eu cá não dou licença que outro no mundo seja mais feliz do que eu, só por ter dentro do meu peito esta alegria inenarrável — dar pão.
Mas, nesta envolvência de vida, não lhe faltava o que constitui o seu perfume: a alegria. O Récio é a andorinha da nossa Casa; todos chamam por ele. (...) Gosto tanto de o ver, agora, com a caneta na bainha da camisa, oiro a reluzir! É tão fácil semear alegria; tão doce acolher alegria! Senhor do Céu, que estes me amem e perdoem minhas faltas. Esta comunhão de vida era chorar com os que choram; alegrar-se com os que estão alegres: Tudo quanto lhes dê alegria é para mim alegria.
Em resumo: De sorte que a vida interior da nossa aldeia, como disse um estudioso belga que aqui veio de propósito com demora de oito dias; a nossa maneira de ser, dizíamos, é um campo onde as casas de educação podem vir buscar soluções de grande problemas; — e dar aos rapazes independência e alegria, que é justamente o que em regra falta em todas elas.
Padre Júlio