DA NOSSA VIDA

Contrastes

Neste momento, manifestam-se-me em grandes contrastes, o tempo atmosférico, os valores humanos e as culturas, nesta passagem que faço de Portugal a Moçambique, para estar com os nossos da nossa Casa geograficamente mais distante. Distância que os actuais meios de transporte e de informação encurtam e aproximam, tornando-os parte da mesma Aldeia global sem anularem a sua diversidade. Esta, em muitos aspectos, mostra o muito trabalho que os homens têm ainda pela frente para corrigir aquilo em que a diversidade é sinal de carências, numa e na outra parte, pondo em prática a boa vontade e a aprendizagem mútua. A parábola de Jesus sobre o rico opulento e o pobre Lázaro, aplicada a estas realidades, não nos pode deixar tranquilos se queremos uma humanidade unida e sadia, e percebemos que temos, na vida comunitária, a nossa quota-parte de responsabilidade. A verdade e o bem não estão só num dos lados.

Esta nossa Casa do Gaiato de Maputo está repleta, como sempre esteve, de muitos Rapazes da rua ou que o viriam a ser se não lhes déssemos a mão, e nela encontram tudo o que necessitam para crescer e curar as suas maleitas e se prepararem para, no futuro, virem a ser alavancas para o desenvolvimento da sua terra. Muitos já o alcançaram. Esperemos que sempre a encontrem acolhedora para o fazerem e nela permanecerem, e não venham a ter de ir, por força das circunstâncias, para outros lugares do mundo.

É também importante frisar que nas nossas Casas, em Moçambique, como em Portugal e Angola, são imprescindíveis os seus continuadores, porque não há obra sem operários, os quais, acreditamos, Deus não deixará de no-los enviar como tem sido desde a primeira hora, o que vinca a Sua Autoria dela. Neste nosso presente histórico, esta é a carência que mais nos inquieta, mas a nossa confiança está n'Ele: Deus providenciará.

Se os passarinhos do céu têm o seu quinhão, quanto mais o terão estes pequeninos, que valem mais, muito mais, que muitos passarinhos?!

Nós vimos e atestamos que muitos deles esperam quem agarre a sua mão que se agarra à nossa. Do acolhimento que lhes dermos seremos todos julgados. Este é o tempo para agir e corresponder ao apelo dos Pobres.

Padre Júlio