DA NOSSA VIDA

Pelos Pobres

Uma mulher, uma entre muitas que nos procuram em busca de auxílio para si e suas famílias, viera há uns meses pedir ajuda para a reparação do telhado da casa que habita com os seus. O apontamento, embora destacado, ficou a aguardar junto de outros papéis a oportunidade para a visita. Quando me senti inquietado por esta chamada, muni-me dele e fui à procura. Estava difícil dar com a rua, ao que nem a internet ajudava. Desapontado e tomando já o caminho do regresso, eis que encontro a placa toponímica e encosto a viatura.

A Pobre estava em casa, onde vive com o marido, um dos filhos e a companheira e o filho destes. Dois quartos que usam sem privacidade entre si, casa de banho e cozinha ligados àqueles por céu aberto, um espaço na cave onde um guarda-roupa é de pouca utilidade, são as divisões que compõem a habitação.

De todas estas carências, a que requer mais imediata intervenção é a parte do telhado que cobre o quarto dela. A chuva escorre em parte para o interior, pingando por vezes na cama do casal.

Não seria difícil remediar esta situação, mas o senhorio não faz nem deixa fazer as obras na casa.

Com mais de vinte anos ali vivendo, tomaram a iniciativa de começar a construir, num terreno do pai, uma casa corrida de rés-do-chão com dois quartos e uma sala, com a ajuda de familiares que são da arte. Fomos vê-la, ainda com algumas partes em tosco, com as divisões sem chão acabado e futuras casas de banho desprovidas de louças sanitárias. Logo combinamos que as viriam escolher a nossa casa, entre as que temos, louças e azulejos que nos foram dadas por um armazenista que fechou. Três dias depois já estavam a carregar, sem olhar à chuva que caía copiosamente.

O mais que falta há-de ter a nossa participação, a fim de que em tudo melhorem as suas vidas.

Enquanto esta tinta vai correndo, alguns dos nossos Rapazes estão a descarregar do nosso carro algumas mobílias e utensílios caseiros que fomos buscar, de oferta. Também quem a ofereceu teve de esperar várias semanas para que a fôssemos levantar, porque o nosso tempo é muito repartido pois há muito a que atender. Embora umas coisas sejam mais úteis que outras, os recoveiros seguem as pisadas do «Recoveiro dos Pobres», e o mais preciso encontra quem dele tenha carência. O alto valor de uma vida em Pobreza evangélica foi-nos deixado por ele, tendo que o descobriu n'Aquele que nos enriqueceu fazendo-Se Pobre.

A Obra da Rua segue o seu caminho, rasteirinha como nasceu, querendo-se maior só para a muitos mais chegar. E são tantos, os vergados pelo abandono. Este é o caminho da «Pobreza escandalosa» por onde vamos. Não queremos outro!

Padre Júlio