DA NOSSA VIDA

Luz do Natal

Está próxima a celebração do Natal — o Nascimento do Menino que não tendo uma casa onde nascer teve uma Mãe extremosa a acolhê-lO em seus braços e a presença serena e segura de um pai dedicado. A natureza deu-lhe o essencial à vida e a Luz do Alto iluminou o lugar e o coração dos presentes. Num quadro de beleza única nasceu o Criador, e a vida manifestou-se. A mais, nada havia, e nada faltava para que este acontecimento tivesse pleno sentido e fosse luz para a vindoura humanidade.

Num mundo de luz e de trevas, dia após dia, ano após ano, a luz do acontecimento do Natal nunca se apaga, mas coexiste com a ilusão de outra luz, que se esfuma em escuridão. Nunca houve tanta desta luz enganadora. As babilónias de outras eras manifestam-se orgulhosas e opulentas na sua grandeza de hoje, à custa da vida, da saúde e da fome de tantos seres explorados na sua dignidade, relegados para a qualidade de objectos, como outrora fora.

Olho as cidades que não vou conhecer mas que os meios técnicos me mostram em écrans deslumbrantes. Logo a seguir as chusmas de Pobres enclausurados nos seus ghettos, à espera do golpe fatal. Luz ilusória que espalha trevas e consola inutilmente uns quantos.

Este rio caudaloso insatisfeito, sempre à procura por onde se espraiar, quer entrar em lugares santos, como teria entrado no Presépio se tanto lhe fosse permitido: «Ide e informai-vos cuidadosamente acerca do Menino, e, depois de O encontrardes, vinde comunicar-mo, para que também eu vá adorá-lO».

Dos acontecimentos dolorosos deste último Verão, trevas marcadas na natureza, manifestaram-se os exageros em que as pessoas vivem ao darem do que lhes sobra. Excedentes de tudo mas pouco de verdadeira preocupação, acções antes que a dor viesse, pelas circunstâncias de vida dos que, vivendo em risco, só de si dependem. Faltaram os braços amorosos; faltou-lhes a sentinela vigilante, serena e atenta prevenindo os males.

O martírio dos inocentes continua, rejeitados pela escuridão, mas acolhidos no Reino da Luz que não se apagará.

Padre Júlio