CONFERÊNCIA DE PAÇO DE SOUSA
No mundo de hoje produzem-se quantidades cada vez maiores de bens que, muitas vezes, não chegam a ser usados plenamente pelos seus donos e que estão subutilizados, ou que acabam, mesmo, por ir parar ao caixote do lixo. Também quem possa precisar desses bens, muitas vezes prefere o que é novo, em vez de reutilizar o que já foi usado.
Por isso, vivemos num mundo onde há cada vez mais as oportunidades para a partilha, mas onde, ao mesmo tempo, também são cada vez mais as resistências a essa partilha.
Ora pode ir-se muito longe na resposta a problemas sociais se se incentivar e organizar a partilha solidária. Para além da partilha solidária (possivelmente combinada com formas adequadas de partilha comercial) contribuir para fazer face ao difícil problema da sustentabilidade de projectos sociais, ela também tem a função essencial de promover, na prática e não na conversa, essa solidariedade sem a qual não haverá verdadeira resposta aos problemas sociais.
Isto vem a propósito de várias situações pelas quais temos passado que nos mostram o muito que se pode fazer promovendo e organizando a partilha solidária, mas, também, o quão difícil isto é.
Deve ter sido por estas e por outras que Jesus Cristo, quando por cá andou, fez o chamado "Milagre da Multiplicação dos Pães". Nesse milagre Jesus, com o seu poder divino, até poderia ter multiplicado por cinco mil os cinco pães e os dois peixes que um rapazito tinha trazido, mas, não deve ter sido isso o que de mais essencial aconteceu nessa altura. O que, de mais essencial, Jesus deve ter feito, nessa altura, foi incentivar a partilha solidária. Pegou nesses cinco pães e dois peixes, deu graças a Deus, e, depois, repartiu-os de maneira a que dessem para mais pessoas do que só para o rapazito que os tinha trazido. Assim, com a Graça de Deus, esse pouco, em vez de servir só a uma pessoa, serviu a mais gente. A partir desse gesto inicial de Jesus, mais pessoas começaram a fazer o mesmo, de tal maneira que, no final, chegou para todos e sobrou.
Repare-se que o que começou por ser partilhado era pouco e, à primeira vista, só dava para o seu dono: o tal rapazito que tinha trazido os cinco pães e os dois peixes. Quando esse pouco, com a Graça de Deus, foi partilhado com quem precisava, fez-se muito e levou muitos a fazerem o mesmo.
Recorde-se, também, que o acto que instituiu a Eucaristia e que esta repete em cada vez que é celebrada, é a partilha do pão.
Que Deus nos ajude a sermos capazes de partilhar o que tivermos, seja muito, ou seja pouco!
Américo Mendes