Da Causa de Beatificação do Servo de Deus Padre Américo
O santo é o homem que vive na sua vida a Vida de Deus.
Padre Américo
Introdução
Na Instrução Sanctorum Mater, para a realização dos Inquéritos diocesanos ou das eparquias nas Causas dos Santos (17 de Maio de 2007), assinada pelo Cardeal José Saraiva Martins e aprovada pelo Papa Bento XVI, vem afirmada esta certeza: Mãe dos Santos, a Igreja tem sempre conservado a sua memória, propondo aos fiéis exemplos de santidade na sequela Christi. Ao longo dos séculos os Romanos Pontífices preocuparam-se em emanar normas adequadas para facilitar a obtenção da verdade numa matéria de tão grande importância para a Igreja.
A Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja (21 de Novembro de 1964), do II Concílio do Vaticano, declarou: Não veneramos, porém, a memória dos santos apenas pelo exemplo que nos dão; fazemo-lo, mais ainda, para que a união de toda a Igreja no Espírito Santo se consolide pelo exercício da caridade fraterna (n. 50).
Segundo a instrução Sanctorum Mater (art. 4), a Causa de Beatificação e Canonização diz respeito a um fiel católico que em vida, na morte e depois da morte gozou de fama de santidade, vivendo de maneira heróica todas as virtudes cristãs; ou goza de fama de martírio porque tendo seguido mais de perto o Senhor Jesus Cristo, sacrificou a vida no acto do martírio. É chamado Servo de Deus o fiel católico do qual já se iniciou a Causa de Beatificação e Canonização.
A organização do Processo compete à Diocese onde morreu o candidato à glorificação canónica e as Causas de Beatificação e Canonização seguem em síntese um itinerário, com as fases e os objectivos, a saber: fase preliminar — verificação da existência das condições indispensáveis para a introdução da Causa; fase instrutória — recolha das provas testemunhais e documentais; fase de estudo - exame das provas pela Congregação para as Causas dos Santos. O acto conclusivo desta primeira parte da Causa é o Decreto sobre a heroicidade das virtudes do Servo de Deus, que passa a chamar-se Venerável. A Constituição Apostólica Divinus Perfectionis Magister, promulgada pelo Papa João Paulo II (25 de Janeiro de 1983), mantém a prova do milagre para a Beatificação. A segunda parte duma Causa de Beatificação corresponde às fases instrutória e de estudo do milagre, e ao Decreto super miro. Para a Canonização é requerido mais um milagre.
Percurso da Causa de Beatificação
O Padre Américo Monteiro de Aguiar (AMA) faleceu com 68 anos, no Hospital de Santo António - Porto, em 16 de Julho de 1956, dia de Nossa Senhora do Carmo, e o seu corpo esteve na igreja da Trindade, aonde acorreu o Porto inteiro a chorar o Pai dos Pobres - Pai Américo. Desceu à terra no cemitério paroquial de Paço de Sousa e os seus restos mortais foram trasladados, a 17 de Julho de 1961, para a Capela da Casa do Gaiato de Paço de Sousa, onde repousam. Seu primo D. Gabriel de Sousa, Abade Emérito de Singeverga, escreveu assim: milhares de pessoas que, de toda a parte, visitam a Aldeia, vão ajoelhar junto daquela campa rasa e rezar, convencidas de que quem tão caridoso foi na Terra, sem dúvida o será mais, se possível, no Céu. Em 1965, alguns Bispos portugueses afirmaram que o Padre Américo tinha o carisma da evangelização dos pobres.
Importa, aqui e agora, historiar sucintamente o percurso da Causa de Beatificação do Servo de Deus Padre Américo Monteiro de Aguiar. Em 22 de Março de 1986, a Obra da Rua, constituindo-se Autora, pediu ao Bispo do Porto, D. Júlio Tavares Rebimbas, a introdução desta Causa. O mesmo pedido fez o Clero da Vigararia de Penafiel, em 12 de Junho de 1986.
A nomeação de D. Gabriel de Sousa, O. S. B., como Postulador da Causa, foi confirmada pelo Prelado diocesano em 8 de Dezembro de 1986. Este ilustre monge beneditino nasceu a 17 de Março de 1912, em S. Cosme de Besteiros (Paredes), ordenado Presbítero em 29 de Julho de 1934, foi Abade de Singeverga (1948 a 1966), um grande expoente da historiografia beneditina em Portugal e faleceu a 23 de Janeiro de 1998, no Hospital do Carmo — Porto, sendo sepultado no cemitério de Roriz.
No Natal de 1986, a propósito do centenário do nascimento do Padre Américo (1987), a Conferência Episcopal Portuguesa afirmou que a História da Igreja entre nós, neste século, não se poderá fazer sem lhe reconhecer lugar de primeiro plano. Em 10 de Maio de 1988, tomaram posse os Teólogos censores dos escritos impressos, Cónego Dr. António Maria Bessa Taipa e Padre Dr. Manuel Durães Barbosa, C. S. Sp., (19-VI-1941 — 12-I-2018), que nesse ano emitiram pareceres favoráveis.
Em 15 de Setembro de 1990, o Bispo do Porto, pronunciando-se pelo valor da Causa e enviando as peças documentais, pediu o nihil obstat para ser organizado o Processo Ordinário. O Postulador exibira: Relatio scriptorium, Positiones et articuli, Indiculis testium. Entretanto, em 6 de Novembro desse ano, a Santa Sé, por intermédio do Cardeal Angelus Felici, da Congregação para as Causas dos Santos, deu o nihil obstat para ser organizado o Processo de glorificação canónica. A 14 de Fevereiro de 1991, tomou posse, na Biblioteca da Casa Episcopal do Porto, o Tribunal Eclesiástico para o início do Processo de Canonização do Servo de Deus Padre Américo Monteiro de Aguiar, a saber: Juiz Delegado — Padre Doutor Jorge Teixeira da Cunha; Promotor de Justiça — Padre Doutor João Paulo Campos; Notário — Padre José Maria Gonçalves Moreira. Nesse momento, D. Júlio Rebimbas, Arcebispo — Bispo do Porto, afirmou que o Padre Américo no mistério da sua vida ofereceu à Igreja e ao mundo o testemunho de uma doação total ao serviço dos pobres. De notar ainda que, em 1992/1993, foi realizado o Processo Rogatorial da Postulação no Tribunal Eclesiástico de Coimbra. E, em Agosto de 1992, ficou concluído o Processo Rogatorial organizado na Cúria Patriarcal de Lisboa.
Assim, em 16 de Julho de 1995, na Sé Catedral do Porto, repleta de amigos e gaiatos, teve lugar a sessão pública de encerramento da fase diocesana do Processo de Canonização do Padre Américo. Tinham sido ouvidas 47 testemunhas e 4 ex officio, nos Tribunais Eclesiásticos do Porto (que realizou 75 sessões), Coimbra e Lisboa, de que resultou um volumoso dossier sobre a vida, virtudes e fama de santidade do Servo de Deus, do qual constam também escritos e documentação fotográfica. Este acto ficou a marcar um ponto alto na história da Igreja do Porto e foi presidido pelo Arcebispo — Bispo do Porto, D. Júlio Tavares Rebimbas, que sublinhou: o seu carisma foi a vivência da Caridade evangélica.
Depois, o Processo seguiu para Roma e foi entregue na Congregação para as Causas dos Santos; e, em 1 de Abril de 1996, acabou por ser aberto o dito Processo do Servo de Deus Padre Américo (P. N. 1764). A 14 de Fevereiro desse ano, tinha sido nomeado o Postulador desta Causa: Mons. Dr. Arnaldo Pinto Cardoso. Em 22 de Abril de 1996 foram nomeados (e tomaram posse a 17 de Maio) os peritos em História, Cónego Doutor Carlos Alberto de Pinho Moreira de Azevedo e Doutor Geraldo José Amadeu Coelho Dias, que declararam a autenticidade e o valor das obras que constam do Processo canónico, da autoria do Servo de Deus e a seu respeito. Sendo assim, em 18 de Outubro de 1997, foi publicado pela Congregação para as Causas dos Santos o Decreto de validade da Causa de Beatificação e Canonização do Servo de Deus Américo Monteiro de Aguiar, sacerdote diocesano.
Ao cabo de 7 anos de trabalho sobre todo o Processo enviado para Roma, foi concluída uma síntese, pelo Relator, P. Daniel Ols, O. P., sendo Postulador, Mons. Arnaldo Cardoso, sob o título: Positio super vita, virtutibus et fama sanctitatis Servi Dei Americi Monteiro de Aguiar, Sacerdotis Diocesani (1887 — 1956). Em 2004, foi significativamente impressa (em italiano) na Tipografia da Casa do Gaiato de Paço de Sousa, e depois remetida para a Congregação para as Causas dos Santos. Teve o visto (a 16-III-2004), para ser dada à estampa, do P. Ambrosius Eszer, O. P. (Relator Geral).
Em Julho de 1995, o Postulador diocesano, D. Gabriel de Sousa, tinha lembrado que nas três iniciais do deu nome, ele descobriu o imperativo do verbo amar: AMA. Havendo necessidade de uma publicação sobre a Causa de Beatificação do Servo de Deus Padre Américo, em Janeiro de 2014, foi editado pela Obra da Rua (como suplemento do jornal O Gaiato) o n.º 1 do Boletim AMA — Américo Monteiro de Aguiar, que vem publicando graças e testemunhos. Note-se, ainda, que foi aprovada pela Autoridade eclesiástica uma oração própria, para pedir a glorificação do Servo de Deus Padre Américo.
[continua na próxima edição]
Padre Manuel Mendes