BENGUELA

O egoísmo é inimigo da solidariedade

A nossa vida deve ser um testemunho constante de amor aos pobres. Há, sem dúvida, muitas riquezas em comunidades familiares. A abundância de bens materiais não cobre todas as famílias. Contudo, uma parte grande da humanidade sofre fome e miséria. Além disso, são multidão os que não sabem ler, nem escrever. O coração de cada um de nós não deve ficar insensível perante esta realidade. O ideal que deve animar a nossa vida, está em fazer tudo o que pudermos para a salvação destes nossos irmãos. A partilha dos nossos bens é um ponto de referência muito importante. O egoísmo é o inimigo da solidariedade humana. Não deixemos que este inimigo entre no coração da nossa vida. A Obra da Rua, na nossa Casa do Gaiato de Benguela, é um testemunho diário da generosidade dos vossos corações. Sem a partilha dos bens que torna possível o nosso viver diário, a nossa Casa do Gaiato não teria possibilidade de fazer o caminho, ao encontro dos filhos abandonados e dos pobres. Por isso, o vosso coração se mantenha generoso e constante nas suas ajudas. Deste modo, tereis um coração pobre, que significa estar comprometido com os pobres, especialmente com aqueles que não podem defender-se, organizar-se e libertar-se. Deste modo, a nossa Casa do Gaiato está no caminho do vosso coração.

Hoje é Domingo. O primeiro acto familiar da nossa comunidade, depois das horas do descanso nocturno, é a participação na Santa Missa, preparada com o ensaio de cânticos, na véspera. De seguida, sentamo-nos à mesa do refeitório para o nosso pequeno-almoço, sempre muito saboroso. A alegria, habitualmente, é a nota dominante. Deste modo, o ambiente familiar anima os corações. Os mais pequeninos, normalmente, vêm ter comigo a perguntar-me se vamos para a praia. Estamos no Verão de Angola, nesta zona do litoral de Benguela. A resposta é sim. Saltam de alegria, como filhos muito queridos. O transporte é uma carrinha aberta, com bancos para se sentarem. A última parte da manhã do Domingo é passada na praia, até ao princípio da tarde. É, sem dúvida, um momento longo de felicidade para os nossos filhos a convivência com as crianças, jovens e adultos de famílias normais. O almoço está à espera do regresso. A parte da tarde é ocupada com as distracções aos seus gostos.

Como temos referido, muitas vezes, os pedidos para acolhimento de novos filhos abandonados, em nossa Casa do Gaiato de Benguela, são abundantes. São precisas mais Casas do Gaiato. O abandono dos filhos é uma verdadeira chaga social. Há momentos, chegou mais um pedido. Algum tempo passado, vieram duas pessoas de Luanda com idêntica missão. Os telefonemas são frequentes, das várias terras vizinhas ou afastadas. Quem nos dera poder dar uma resposta positiva! Porém, não é possível, enquanto não houver empregos para a colocação dos filhos mais velhos desta Família. São numerosos. Estão na idade de saírem da nossa Casa do Gaiato. O pai de família, porém, não põe, normalmente, o filho fora da casa, sem o mínimo de condições dignas para a sua sobrevivência. Uma dessas condições é o emprego que lhes garanta a sobrevivência com dignidade. Esta é, sem dúvida, a grande aflição que nos faz sofrer, nesta hora. Esta reflexão não significa desânimo. Temos esperança. Há dias, levei a uma empresa que conhece a nossa Casa do Gaiato de Benguela oito pedidos para emprego dos filhos desta Casa de Família. Vamos continuar no caminho da Esperança. A ajuda dos vossos corações é um dom precioso. Estamos no início do novo ano. A escola está prestes a abrir as suas portas para o início do novo ano lectivo. Durante esta semana, algumas dezenas de professores estão a fazer a sua preparação renovada, nas instalações que temos disponíveis. Que tenham um bom êxito! Cada um de vós receba um beijinho dos filhos mais pequeninos da nossa e vossa Casa do Gaiato de Benguela! Contamos com a ajuda dos vossos corações generosos!

Padre Manuel António