BENGUELA

Obra de Rapazes, para Rapazes, pelos Rapazes...

O nosso caminho seja um caáminho de liberdade. Por vezes, acontece que o nosso coração está preso pela ânsia de possuir bens materiais, de tal modo que gera situações injustas. Na medida em que conseguirmos superar esta paixão, seremos semeadores de paz e justiça. É um ideal apaixonante que se manifesta na esmola dada com alegria. É, sem dúvida, melhor a esmola com justiça que a riqueza com iniquidade. É uma manifestação do amor convertido em obras. Quem dera sejamos solidários com todos os necessitados para que possam ter uma vida digna. Estar com os pobres de sempre seja uma opção obrigatória na vida de cada um de nós. É necessária, sem dúvida, muita coragem. As grandes obras, ao serviço da humanidade, são fruto do amor. Há dias, veio ter connosco um enviado da rádio oficial. Queria saber a história da nossa Casa do Gaiato de Benguela para partilhá-la com o público, em geral. Quis saber, em primeiro lugar, donde vinham os meios económico-financeiros para a sua manutenção. Disse-lhe que a nossa Casa do Gaiato vive das esmolas que lhe são dadas pelos corações particulares, cheios de amor. Ficou surpreendido, pois julgava que as ajudas oficiais eram a garantia da sua existência. A grande maravilha está, pois, na generosidade dos corações particulares, animados pela fecundidade do amor. É verdade, a Casa do Gaiato de Benguela não teria os anos de vida que tem, 54 anos, sem a alma do amor que está nos corações das pessoas que a amam. Os testemunhos são maravilhosos e são, ao mesmo tempo, uma fonte de esperança para o futuro.

Outra pergunta do entrevistador estava relacionada com o tipo de filhos que são acolhidos na Casa do Gaiato. Ficou muito admirado, quando lhe disse que a Casa do Gaiato não é um internato comum, para acolher filhos de famílias normais. É, sim, a Casa de Família dos filhos abandonados, da rua, sem família. Alguns podem ter uma ou outra pessoa de família, o que é normal. Porém, vivem como se não a tivessem. A Casa do Gaiato tem como objectivo ajudar cada rapaz, cada filho a ser um homem normal. É, sem dúvida, um direito fundamental de todo o ser humano. São criadas as condições familiares essenciais para a realização deste projecto maravilhoso. Um dos factores essenciais é a colaboração dos próprios rapazes com mais capacidade. Por isso, a Casa do Gaiato é uma Obra de Rapazes, para Rapazes, pelos Rapazes. Está aqui o segredo duma educação verdadeiramente activa. É, sem dúvida, uma fonte da responsabilidade inerente a uma formação verdadeiramente humana. Todas as fases das suas vidas, de acordo com as idades, são ocupadas, como factores educativos, nas mais variadas actividades. Desde a actividade escolar, à actividade ligada à vida da própria Casa, à actividade da aprendizagem profissional, à ocupação de tempos livres com actividades recreativas.

Os pedidos de ingresso são muitos. É, sem dúvida, um sinal de que a situação social, neste sector, continua muito grave. Muitos pais abandonam os filhos, gerados em condições anormais, sem estabilidade mínima familiar. As mães sentem-se impossibilitadas, pelas várias situações humanas e económicas. Os filhos, à medida que vão crescendo, geram inquietações. Estas mulheres acabam por esquecer o seu amor maternal e deixam-nos cair no abandono. É, na verdade, uma situação social muito preocupante. A Casa do Gaiato mergulha, com todo o seu amor, e só por amor, neste oceano de miséria social para salvar estes filhos. Por isso, todo o auxílio material que nos vem do coração generoso de cada um de vós, ganha um valor humano extraordinário. Estes filhos entram, também, nos vossos corações que, deste modo, se transformam em salvadores humanos. Quem dera a consciência desta dignidade vos leve a ser sempre generosos para com a nossa e vossa Casa do Gaiato de Benguela. Recebei um beijinho dos filhos mais pequeninos.
Padre Manuel António