BEIRE
Flashs do nosso quatodiano
1. A arte de TORNAR(-SE) voluntário. Chego e vejo o carro. Não sei se veio a equipa toda ou só parte. Mas logo penso que elas andam por aí. Passo pela cozinha, lugar habitual do seu paradeiro. Nada. Pergunto onde andarão. - Estão a limpar a capela. Vou até lá, para cumprimentar e agradecer. Porque, fazer a meditação numa capela limpinha e cuidada (mesmo que só para alguém se poder recolher ali, em silêncio e quietude, para rezar e/ou fazer meditação...), é muito diferente de entrar numa capela a cheirar a triste abandono. Sobretudo se isso é assim porque lhe roubaram o pastor...
Ao aproximar-me, deparo com um quadro que me enterneceu. Duas das senhoras da equipa de cinco andavam cá fora. Uma de sachola e outra de varrisco na mão, a limpar o ao redor da capela. Dentro, andavam as outras três - uma varria o chão, outra limpava o pó e a terceira cuidava das teias de aranha. Logo senti, bem dentro de mim, o nascer desta crónica - a arte de tornar-se voluntário. Porque, por um saber de muitas experiências feito, sei que realmente o voluntariado dá muito que pensar. Daí os muitos prós e os muitos contras. Desde o libera nos, Domine, até ao Te Deum laudamus porque ainda há gente que... Daí também a necessidade de não se deixar cair na tentação de um precipitado pró e/ou um precipitado contra. É um assunto muito sério. Não se pode rejeitar em absoluto, nem se pode embarcar só em boas vontades. Porque delas está o inferno cheio e as instituições ditas "de caridade" chegam a ficar saturadas de so'storbas...
Fazer voluntariado é um assunto sério. Merece estudo e reflexão atempada. Porque cada caso é um caso - desde a pessoa que quer vir para ajudar até à pessoa que necessita de uma ajuda. É que, em matéria de ajuda, não há pronto a vestir. Sempre há que fazer uma boa pré+paração. Para tomar consciência de que, periodicamente, o voluntário precisa rever o seu conceito de Pessoa e o seu conceito de Ajuda. Um voluntário só está em vias de poder servir para alguma coisa quando já se sente mesmo em processo de tornar-se voluntário. Consciente de que jamais o será como Deus manda. Por isso, quando entra ao serviço, não é para mostrar saber... Sim para trabalhar por aprender a Ser/Estar com quem e onde julgamos que Deus nos chama. Conscientes de que Deus só chama gente que queira aprender a estar com gente que precisa de gente. Porque também é gente, mesmo que com limitações profundas...
Lembro a terapia de choque de P.e Baptista: - ... Nós não precisamos, mas, se você precisa, fique... Sei de quem foi recebido assim. Aguentaram o embate. Foram aprendendo a tornar-(se). E hoje são uma bênção nesta Casa - no Calvário e/ou nos Rapazes.
2. A nossa Festa do Chuchu... Tanto vi e tanto ouvi sobre as bênçãos do chuchu que até me apaixonei por eles. Plantei chuchu em tudo quanto era chão húmido por perto de ramada vazia ou já em vias de.... - O chuchu bebe muita água, informavam os entendidos. Então, só precisava era que houvesse água por perto. Nasceram. Cresceram em muitos sítios. Agora, volta e meia, lá ando eu a vê-los e a deixar-me ver por eles. Lembro meu pai, um camponês de gema: - Os campos, como os animais, gostam de ver o dono mais que uma vez ao dia...
Nesses momentos de autêntica com+TEMPL+ação e muitas vezes de êxtase, sinto visceralmente a dita de ver Deus a revelar-Se-me. No desabrochar das sementes, das flores e dos frutos. Indescritível. É a eternidade no tempo. A experiência da alegria que abule o tempo... (Dizem os psicólogos que, para viver-se equilibrado, toda a gente precisa de, volta e meia, passar por experiências destas, com suas emoções fortes).
Eu tinha avisado aquela equipa de voluntariado de ocasião - o tal quinteto de que já falei. Disse que o Jorge já colheu os marmelos. Logo a Dina, chefa da equipa, esseemeessejou a dizer que "na sexta-feira, pelas 15h, aí estaremos. Só as que pudermos ir, claro". Aproveitei para acrescentar: - Este ano, os marmelos são poucos e fraquitos. Mas... Acho que já provei doce (compota?!...) de chuchu. P.e Telmo diz que nunca provou, mas gostaria de provar. Se souberem de receitas... Tenho aqui um cesto deles à vossa espera.
A Ana Maria, que pertence à equipa e penso que é uma expert em compotas e doçaria, foi ver de receitas. Antes de vir, experimentou em casa. Trouxe um boiãozinho só para podermos provar. Uhau! Que coisa boa! Aprovado por unanimidade. Mãos à obra. A compota ficou cinco estrelas. Tudo arrumadinho em frascos, para gestão posterior. Mas ainda sobrou um restinho para qualquer lambarice de gasto imediato.
À noite, a sobremesa era donuts que o Intermarché oferecera. P.e Telmo tinha saído, mas chegou ainda sobre o jantar. Eu tinha posto ali a compota mais umas bolachinhas que também elas trouxerem para a tal degostação... Ainda antes da reza de Acção de Graça, começou a festa: bolachinha com chuchu para P.e Temo, bolachinha com chuchu para o Nelito, que se fartou de regar, mais uma bolachinha com chuchu para matar a gulodice do Tirapicos que estava ali com o pescoço esticado, de olhos arregalados... Fez-se uma fila indiana de ai eu também quero provar... Ninguém ficou de fora. E, para não ficar restos, os mais despachaditos ainda puderam repetir. - Já não há mais ?! Oh!!!
No silêncio da noite, dei comigo a dar graças e a pensar: Abençoada irmã pobreza que nos faz tão felizes com tão pouco. Deus louvado.
Um admirador