BEIRE

Um "anel de noivado" para…

Como formiguinhas que não param... Vejo-as. São mesmo da família dessas santas mulheres da Escritura. Discretas. Não param. Movidas pela ânsia de bem servir estes nossos últimos que ninguém quer. No último O Gaiato tentei abrir o vosso apetite para a linda história de um anel de noivado... Porque também aqui são muitas as noivas que o merecem. Sentia-me movido a isso à medida que me ia inteirando das ocorrências mais significativas, durante a minha ausência. Porque, como então vos disse, gosto de estar atento ao princípio de que, por amor das pessoas, às vezes, é preciso descansar delas. Foi assim que, acedendo a um convite dos meus, me permiti umas feriazinhas com eles na ilha de S. Jorge, Açores. Porque cada vez acredito mais que muitos erros e dissabores seriam evitados, se todos nós estivéssemos mais atentos a esta nossa necessidade relacional. Parar(-nos). Para COM+versarmos. Para nos vermos. A nós mesmos e aos outros, na nossa mútua inter-relação pessoal. Nomeadamente com aqueles que, dizêmo-lo tantas vezes da boca para fora, nos são mais queridos. E, porque vo-la prometi, então, aqui vos deixo a linda história de um "anel de noivado". No prosseguimento de uma homenagem a essa(s) nossa(s) Margarida(s) que, como no caso do Evangelho (Mt 13, 44-46) são de um valor incalculável. Tanto que vale mesmo a pena vender tudo e comprar aquele campo... Verdade que, se na Obra da Rua as Margaridas são insubstituíveis, nesta Obra de Doentes, para Doentes, pelos Doentes, elas não podem mesmo faltar. Sob pena de que se não tudo se altera. Como numa família. Quando falta a Mãe. Ou numa colmeia, quando morre a abelha mestra - a Rainha Mirabilis...

A linda história reza assim... «Com passo firme, um jovem escorreito entrou numa joalharia e pediu que lhe mostrassem o melhor anel de noivado que tivessem. Passado um momento, o joalheiro traz-lhe um. O nosso jovem contempla o anel, em silêncio demorado. Por fim, sorridente, faz um gesto de aprovação - é mesmo isto que eu quero. Perguntou o preço e dispôs-se a pagá-lo.

- O senhor vai casar em breve? - Perguntou o dono.

- Não. Ainda nem sequer tenho noiva. - E a surpresa do joalheiro divertiu o nosso jovem.

- É para a minha mãe. Quando eu estava para nascer, ela estava sozinha. Alguém a aconselhou a matar-me, antes que nascesse. Assim evitaria compromissos e mais problemas. Mas ela negou-se a isso. Deu-me o dom da vida. Claro que teve muitos problemas. Mesmo muitos. Foi pai e mãe para mim. Foi amiga e foi irmã. Foi professora e catequista. Ministro da Igreja e psicólogo. Fez-me ser o que hoje eu sou. Agora, que já tenho possibilidades de o fazer, compro para ela este anel de noivado. Ela nunca teve um anel desse tipo. Hoje, dou-lho eu, com a promessa de que, se ela fez tudo por mim, agora sou eu que farei tudo por ela. Talvez um dia também possa eu entregar outro anel de noivado, mas já será o segundo...

O joalheiro não disse nada. Mas deu ordens na caixa para que lhe fizessem aquele desconto que só se fazem a clientes muito especiais.»

- ... Ninguém tem obrigação de aturar isto!... Deixo-me em silêncio e quietude. Aí onde todos podemos descobrir o valor de perder a vida, encontrando-a... (Mc 8, 34 3 sgs). Pela minha mente, inquieta, perpassam-me cenas de flores de trigo e de amargos de joio... Às vezes, ainda que em momentos diferentes, a juntarem-se na mesma pessoa. Que, também às vezes, até sou eu mesmo. A deixar sair um nem me conheço... Ou: Ela/ele nem parecia a mesma pessoa... O que nos vale, aos que acreditamos nisso, é que a oração, o silêncio e a quietude são propícios à descoberta das pérolas escondidas no vasto campo da Boa Nova de Jesus. E a gente cá vai continuando a aturar isto tudo. Como quem tem mesmo obrigação. Porque são estes os filhos que Deus nos mandou. Filhos que às vezes são os irmãos - assalariados, voluntários, visitantes. Tudo aprendizes de vivente, em buscas de mais vida. Quem sabe se sem saber bem o quê buscam... Mas vale a pena tentar descobrir...

Perpassa-me uma lista de nomes com quem pude contactar. Algumas que já repousam no Seio de Abraão - as irmãs de Aljustrel, D. Sofia e D. Áurea; a D. Virgínia que, ao lado de P.e Baptista, arrancaram com Beire; a D. Clementina que, no Lar do Porto, era a Mãe que sabia servir, sorrindo; e também sabia corrigir e acolher. Escutar os rapazes que se preparavam para casar. E as namoradas que buscavam saber histórias dos futuros maridos. D. Maria da Luz, no Lar de Coimbra, com idêntico papel; outras que, como D. Maria do Rosário, já estão arrumadas no seu cantinho, à espera que o Senhor as chame; e aquelas que ainda hoje estão a dar o corpo ao manifesto. Intrépidas. Às vezes com lágrimas escondidas, sem ter com quem conversar. Mas não perdem tempo a olhar para trás, quiçá com saudades do arado que deixaram.

Falo para todas elas, as que nomeei e as que se me escaparam. E é para todas elas que aqui deixo o melhor anel de noivado. Das suas núpcias com um Lar que tenta ser família para os sem família. Onde é preciso saber ser pai e mãe para cada um deles. Saber ser amiga e irmã. E mestra. Terapeuta e educadora.

Santas mulheres da Escritura, fecundadas por esse Espírito que, porque é O SANTO de Deus, só busca O BEM do outro.

Um admirador