BEIRE

"Terapeutas" e "Pedagogos" precisa-SE…

1. O "SE" d'aquele precisa... Sempre me encanta o parar-me à DES+coberta da(s) realidade(s) que se escondem por detrás das palavras. Gosto de me com+frontar com o "mistério do real" e deixar-me questionar por ele. Naquele tempo, aprendi que as palavras são meros "sinais convencionais" que vamos inventando para traduzir o real à medida que ele nos vai revelando os seus insondáveis mistérios. E aprendi também que um dos grandes dramas da (in)comunicação é que as palavras inventadas sempre tendem a evoluir como mera descrição do mundo exterior. E isso vai-las tornando impróprias para traduzir o mundo interior que lhes deu origem. Daí esta dura constatação: "Pessoas desonestas acreditam mais nas palavras do que na realidade"... Seduz-me o aprender a ser honesto.

Bom, mas vamos àquele "SE". Também naquele tempo aprendi que esta, por vezes "partícula apassivante", pode ser muito mais do que isso. Desde um qualquer pronome indefinido a um pronome pessoal muito bem definido. O reflexo. E foi esta sua última propriedade que, hoje, tanto me interpelou. Ao olhar, a partir de dentro, cada um de nós que vamos construindo esta numerosa família dos últimos sem família. Sinto isto como um desafio à prática, para todos nós que remamos nesta mesma barca e que, ao menos da boca para fora, dizemos amar os doentes... A delicadeza desta tarefa é de tal ordem que URGE que cada um de nós SE vá tornando um interpelado e interpelador, até que todos, gostosamente, nos vejamos como instrutores uns dos outros.

— ... X'Abel, nós já limpamos as ervas das cebolas!... As cenas do nosso quotidiano fazem-me cair na conta da falta que me/nos faz termos todos um mínimo de noções de terapia - pessoal e grupal; termos um mínimo de noções de pedagogia. Não daquela terapia e/ou pedagogia com papel de "competência académica". Dessa, libera nos, Domine... Corre riscos de incompetentizar-nos, porque costuma levantar-nos muito o nariz. Falo daquela terapia que busca descobrir o que cada um já é e/ou ainda é capaz de fazer. Para sentir-se útil. Diante de si próprio e dos outros. E daquela pedagogia que os verdadeiros pais/mães aprendem naturalmente com os filhos, ao tentarem cumprir-se no seu papel de pais/mães. Porque sei que, aqui nesta Casa, toda esta gente é muito especial, acredito que, por isso mesmo, ocupa um lugar muito especial no coração do Deus/Abba, revelado em Jesus de Nazaré.

Pego nos mais especiais, cujos nomes vou desfiando dentro de mim. Fico-me a remoer cenas muito especiais. Desde as lágrimas da Maria José, quando algo a toca por dentro, as fugas do Semanel e ou do Júlio, até aos urros, palavrões e, por vezes, algum rebentar de agressão física por parte do Tirapicos. Tudo coisas do nosso dia a dia. Não assustam ninguém, mas hoje tocaram-me de um modo muito particular. Regressava a Casa, depois de uma semana de ausências. Ouço novidades, observo, rumino. E fico com a sensação de que tudo podia ser bem melhor se o meu / o nosso comportamento para com eles também fosse melhorando. E, sem querer, salta-me a verdade dos velhos ditados de que, afinal, "todo o burro come palha, se lha souberem chegar" e de que "os tolos também se ensinam"...

Não me largavam. Tive de ir ver as cebolas, os tomates, os pimentos. Tinha-os alertado de que, se as não travarem, as ervas comem tudo. Eles, sozinhos, são incapazes de qualquer iniciativa que não seja gostosamente umbilical... Fora das suas rotinas habituais, sempre ficam parados à espera que... Não há nada para ninguém, por mais gritante que seja a urgência. Mas já vi o Marcelo, o pai dele e também a Graça fazerem milagres com eles. Penso que é sempre (e só quando...) se deixam SER no seu melhor. Não sei quem comandou as hostes. Sei é que aquela sacha da horta parece mesmo trabalho de gente normal...

Eu preciso, tu precisas, ELE precisa... Revejo as minhas dificuldades em lidar com eles. Sobretudo em momentos de maior fraqueza deles e/ou debilidade minha. Mudanças de lua, dizemos nós. Vejo que há voluntários/as, já mais calejados, a saírem-se bem de situações difíceis. Idem alguns/mas assalariados/as que me dão discretas lições de mestre. Visitantes que sabem vir até aqui — por necessidade de aprender. Vejo. Vou somando cenas, pensamentos e emoções. Constato a justeza das leis de base das relações humanas: a) Comportamento gera comportamento; b) Posso escolher o meu comportamento; c) Posso servir-me do meu comportamento... E do corolário que delas escorre: Ninguém pode evitar ser influenciado pelo comportamento dos outros; mas todos podem evitar ser determinados pelo comportamento dos outros. Lido à luz da Fé, tudo me diz que ELE está vivo. Crucificado em cada um destes, à espera do meu SIM, e do teu SIM e do SIM de e de e de... Para que ELE possa encarnar e re+Suscitar em cada um destes irmãos que encantam quem vem com olhos de ver.

Pouco a pouco, vou conhecendo as tempestades do mar desta minha Galileia a que já estou de volta (Mc16, 1-7). Vejo o longo percurso que este SE me pede que percorra...

Um admirador