BEIRE

Flashs do nosso quotidiano

A Verdade, a Beleza e a Bondade... Volta e meia eles dançam dentro de mim. Com destaque, entre muitos outros a que também devo muito. São dois livros que, em épocas diferentes, marcaram a minha vida — Porque tenho medo de te dizer quem sou (Jonh Powell) e Tu me fazes ser eu (Luís Evely). Cada um de seu jeito me levaram / levam a grandes DES+cobertas de mim. Neste meu novo Estar Com esta minha vida, nestas minhas curiosas circunstâncias. Realmente, John Powell tinha razão: A descoberta de si próprio pode tornar-se uma aventura fascinante durante a vida toda — por mais longa que ela seja. Tendo começado pela filosofia escolástica, aprendi que, em Deus, a Verdade (Verum), a Beleza (Pulcrum) e a Bondade (Bonum) são uma só e mesma coisa (convertuntur). Depois, pela ruminação conjunta da(s) filosofia(s), teologia(s) e psicologia(s), fui-me dando conta de que a essência de Deus e a essência do homem são COM+vergentes. Isto é, crescem na direcção do encontro com o Pai Bom, (aquele pai d'aquele filho tão "pródigo" em fazer animaladas...). Esse Pai Bom / Abba que encarnou / re+Suscitou em Jesus de Nazaré. Que nos disse "Eu e o Pai somos UM e vim para que todos sejam UM". A fazer luz (dar MAIS VIDA!) sobre os mistérios do Homem (Vaticano II, Gaudium et Spes). Daí este meu gosto de pensar que, também no homem, a verdade, a beleza e a bondade são uma só e mesma coisa (convertuntur). A nós, como comunidade e a cada um como indivíduo, compete fazê-las desabrochar.

Também eles me fazem ser eu... Entre voos de encantado aprendiz de vivente e de reiteradas aterragens neste nosso Calvário / Casa dos Rapazes, dou comigo a ver cada um a uma sempre nova luz. Residentes, assalariados, voluntários. Em todos, para lá da natural diversidade própria de cada um, encontro / vejo esta mesma UNI+dade na sua fome de Verdade, Bondade e Beleza. Assim, em cada dia que acordo, tudo me parece NOVO. Mais bonito. E sinto-me numa aprendizagem permanente e encantadora. Vale a pena dizer SIM à vida, quando se acredita que, para mais além desta reduzida vidinha de insignificantes aparências, há sempre MAIS VIDA, numa superabundância que a tudo e a todos supera.

Fecho os olhos. Deixo a minha mente trazer ao de cima cenas e mais cenas. Um quotidiano de novidades permanentes que me põem mais perto de mim. Mais presente a mim. Para ser mais eu... Deixando que sejam eles os meus grandes mestres. Nesta fascinante descoberta de mim, dos outros, da vida, do mundo, de Deus — do jeito que Ele se me vai revelando. Numa infindável gratidão para com P.e Batista e P.e Júlio que me empurraram para aqui. Como uma bala no escuro... É preciso ter uma Fé muito grande, repete P.e Baptista. Nele, muito lá atrás, ouço a minha mãe: Oh! filho, isto só se vê com os olhos da Fé! E fico-me a ruminar sobre a Fé que arrasa montanhas...

— (...) Deixa lá. Já passou. Dá um abraço... No fim do jantar, o Sem Nome vem para a minha beira a fazer queixas. Vejo que está enervadíssimo, muito revoltado. Porque fala depressa e atabalhoadamente, tenho muita dificuldade em perceber o que está para ali a taramelar. Entretanto, chega também o Carocha. Pois. Já sei o que se passou. Os dois são do grupo da erva e vacaria. E aconteceu o que muitas vezes acontece — Sem nome é certinho no estar no seu lugar às horas de trabalho e cumpre fielmente. Mas o Carocha não é assim. Quando evade deste mundo, não há horas, não há trabalho, não há outros... Ele sozinho, de volta da sua abundante fantasia. Faz a festa, bota os foguetes e ainda apanha as canas... Alheio a tudo, fala, gesticula, ralha, gesticula mais, ri. Encarnando a voz e os trejeitos de cada um dos personagens que lhe vão passando pela mente. São negócios de bois, que custam muito dinheiro!... Negócios de foicinhas, de tractores, o Marcelo que tem muito que fazer... Às vezes, fico-me pasmado, a com+TEMPL+ar aquele e outros rapazes. A ver se entendo a verdade, a beleza e a bondade desta gente. Que bela UNI+versidade esta em que aqueles dois reverendos me matricularam. Era mesmo isto que me faltava, para que a minha vida fosse mesmo Mais Vida...

A fúria do Sem Nome era tal e tão assimétrica à inocência do Carocha que descambou em ameaças de pancadaria. Ele, a bondade e a serenidade em pessoa. Sempre fora da barca, naquele dia o Carocha inchou-se também. Saem-me pelo refeitório fora aos empurrões e aos berros. Vou atrás e logo tudo fica como dantes. Aqui, as tempestades não passam de copos de água encapelados...

À noite, já a preparar-me para deitar, aparece de novo o Sem Nome. Sereno. Nas suas inconfundíveis gargalhadas. Mas logo aparece o Carocha. E a tempestade recomeça. Porque estive sozinho a dar de comer ao gado... Aqui aparece a lição: - Estás zangado comigo? Deixa lá. Já Passou. Dá um abraço.

Ali, diante de mim, aconteceu a festa da reconciliação. Lembrei a recomendação de S. Paulo, Ef 4 26-27: Que nunca o sol se ponha sobre a vossa ira... Afinal, estes atrasaditos mentais (como são vistos por tantos) sabem disto. Mas eu, que estudo tanto e rezo (...), às vezes não me cumpro assim tão bem. Obrigado Carocha. Obrigado Sem Nome. Deus louvado.

Um admirador