BEIRE
Como seria triste o Calvário, se…
O poema começa assim: Toda a natureza é um desejo de serviço. // Serve a nuvem, // Serve o vento, // Serve o sulco. A certa altura, prossegue: Como seria triste o mundo // Se tudo já estivesse feito, // Se não houvesse uma roseira para plantar, // Uma iniciativa para Lutar! E logo refere que (...) há pequenos préstimos que são bons Serviços. Fico-me a remoer a extensão e a profundidade destes versos. Porque sofro mesmo só de ver tanta gente (muita dela ainda muito jovem) a vomitar revoltas e tristezas porque não encontra um sentido para esta vida.
E sempre se chega a um ponto em que, passadas as toleimas dos verdes anos, o problema se nos põe: Afinal, vive-se, ex(s)iste-se, sofre-se, luta-se, ..., para quê ?!... E nós aqui com tanto Serviço. Que, se feito com a Alegria de Servir, gera tanto sentido na vida de tanta gente!!!
Fico-me a com+TEMPL+ar d'o que por aqui se passa. Em sua suculenta variedade. É um esbagoar de contas de rosário e/ou um cantar de lindas estrofes de um Hino de Acção de Graças. Deixo que as doces memórias do coração venham ao de cima e selecciono estes dois casos:
a) O Manel Mau, nosso Semanuel mouco. Que, assim sem qualquer sinal que no-lo fizesse prever, partiu para o Pai, como um passarinho que é chamado durante o voo. Deteriorado por anos e anos de álcool e sem abrigo. Não parava em sítio nenhum. Até que, alquebrado e já sem forças para fugir de si, mão amiga entregou-no-lo para ser dos nossos. Um misto de resmungão agressivo e de resignação confiante. Tantas vezes até com laivos de ternura. Ai como me lembro do seu rezar — lá do jeito que ainda lhe ficou dos tempos de menino. Se o apanhávamos em dia que pudéssemos conversar, lá na sua cadeirinha, na varanda dos homens. Apontava os aviões que passavam no alto e sempre nos dizia que vai para o Brasil. Tenho lá família... E logo acrescentava: O de lá de cima é que manda tudo. Eu ainda sei rezar. Mas só aquelas mais pequeninas... Das outras já não me lembro. Ele é que manda tudo!
Era a sua forma de partilhar connosco o que já fora. Família emigrada que fez fortuna, lá longe, mas que nunca o pôde acolher porque ele não se deixava acolher. Tivemo-lo aqui porque, realmente, nunca soube lidar com a vida. Tornou-se um sem lugar. E aqui é um lugar para esses que não encontram lugar na estalagem (Lc 2, 1-7);
b) O João e a Dina que, no vigor da sua força, foram o braço direito de P.e Telmo, no erguer da Aldeia — Casa do Gaiato de Malanje. Agora, ao fazer 50 anos de casados, escolhem o Calvário para juntar os seus mais próximos. E, com eles e os nossos, celebrar as alegrias e dores, as penas e os trabalhos que sempre souberam acolher, no seu caminhar para a Pátria do Coração — lá onde a RE+Surreição acontece. Que bonito ver assim esta Casa (nesta nossa Capela) servir de Santuário onde dá gosto louvar, em alegre COM+uni(h)ão, o Deus Vivo que Se ergue deste chão que é MAIS VIDA para tanta gente, quando parecia que a vida já se acabara.
Um admirador