VINDE VER!
Depois da sementeira vem a colheita
O Evangelho é uma fonte segura para saciar a nossa sede de sabedoria! Aquele que deseja caminhar firme no sentido de realizar a sua missão com fidelidade e sentido de dever cumprido, deverá certamente mergulhar fundo, sem receio de afogar-se, na imensidão das suas águas. A Boa Nova ilumina a vida de cada dia, como o sol que nasce na aurora para aquecer os dias frios.
Muitas vezes guiados pela iluminação de um discernimento coerente, equilibrado, e amadurecido, depois de tantos manuais de ciência e conhecimentos da experiência da vida quotidiana, reconhecemos que a verdadeira luz continua a irradiar no mais íntimo de nós mesmos quando deixamos a sabedoria do alto envolver-nos na sua plenitude.
A liberdade para lançar a semente à terra deve ser acompanhada de grande responsabilidade para que um dia a colheita possa ser abundante. Aquele que semeia deve, em primeiro lugar, estar consciente da qualidade da semente e do solo em que confia para poder assegurar-se de que não trabalhou só para dar de comer às aves do campo; "cada qual colhe conforme aquilo que tiver semeado".
O momento da sementeira, é tido como um tempo de muito trabalho e, muitas vezes, é necessário aguentar a bravura do sol sobre a cabeça, e enxada firme cerrada nas mãos já muito calejadas, como nos conta o Salmista; à ida vão a chorar levando as sementes/ à volta vêm a cantar trazendo os molhos de espigas. O final parece ser o mais animador e reconfortante para todos. Se tivéssemos que escolher, estou certo que a grande maioria das pessoas viria a preferir a colheita abundante em detrimento da opção pelo trabalho árduo da fase da sementeira.
Nos nossos campos conforme as épocas agrícolas, e as estações do ano também fazemos a experiência do semeador. Muitas sementes, com uma grande variedade, foram lançadas na terra no mês de Maio, altura em que começa a estação fria (cacimbo). Os rapazes estiveram muito envolvidos, pois calhou na fase em que ficaram suspensas as aulas devido à pandemia do Covid-19.
Neste princípio de Agosto começámos a colheita da batata rena, do kiabo, das abóboras, da melancia, do feijão e da ginguba. Não tivemos grande colheita do melão. Na zona em foi semeado recebeu muita água e com o orvalho das manhãs de cacimbo uma boa parte não desenvolveu, e então, serviu de alimento para os nossos animais. A batata doce, são quase três hectares, só fica pronta para a colheita na segunda quinzena de Setembro. E então, a partir dessa altura, teremos em abundância. Em entrevista à televisão pública um ministro do actual governo disse que o pão deveria ser substituído pela batata doce, por haver escassez de trigo no País. Há quase três meses que foi posta na terra se estivéssemos de esperar só pela batata doce já teríamos morrido de fome. Todas as manhãs há padarias abertas a vender pão, nem todos as manhãs o agricultor se encontra a fazer colheita da batata. É preciso esperar pelo tempo em que o produto se encontra maduro para a colheita. Como é bom e agradável ver os nossos rapazes a saírem da fazenda com os cestos cheios de melancia, cheios de abóboras ou cheios de batata e a ir ter à nossa dispensa. E à hora da refeição ouvir de viva voz: é sopa da nossa abóbora, é melancia do nosso campo. E os pequeninos a retirar do fruto as sementes para depois serem lançados à terra. Por agora há mais alegria no dia da colheita, mas pelo ano com toda essa energia positiva da nossa malta haverá também muita alegria para o dia da sementeira. Eis a arte da boa convivência em família. A conclusão é de Pai Américo: «Este ano tivemos mais searas do que nos anteriores. Fizemos assim não tanto por causa do centeio como para termos palha com fartura para refrescar colchões. Mudar, lavar, encher. Oh! noites bem dormidas! Dantes era nos portais! Mais seara. Mais centeio. Mais rapazes. Mais foguetes. Mais infusas. Mais alegria. Mais tudo!»
Padre Quim