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Resiliência em tempos de vacas magras

Em tempos de pandemia e de poucos recursos o ser humano dotado de capacidade é chamado a erguer-se diante das adversidades da vida. Esta constatação tem uma percepção diferente quando é dita assim na ausência de situações de crise, mas quando nos toca a vivê-la, então é que realmente sentimos o peso do seu significado. O homem do tempo do ano 20=20, do terceiro Milénio vive numa imensidão de preocupações e culpas à mistura que o fazem atravessar hoje uma fase de teste difícil. Em quase todos os sectores da vida social são notáveis os sinais de precariedade. No seio das famílias, sobretudo as mais carenciadas, estar vivo significa ter já passado pela prova de fogo para poder estar de pé, assim que o sol se levanta. Aos poucos vai faltando o necessário para a sobrevivência dos filhos de uma terra que tem potencialidades escondidas para fazer jorrar "leite e mel". Com as restrições de circulação impostas pelas autoridades competentes, o povo ficou mais limitado para a luta em busca do pão de cada dia para a sua subsistência. A nossa jornada é assim mesmo. Tão bela muitas vezes e tão turbulenta tantas outras vezes. É imprevisível que não apareça a surpresa, o inesperado quando se caminha assim com a velocidade em alta num Mundo que quer ser cada vez melhor para a convivência de cada um dos seres criados. E nesta óptica, o mais importante não é o facto do barco em que navegamos ter embatido de frente com as contrariedades da vida, mas sim a capacidade de poder recuperar-se depois de ter acalmado o ruído dos estrondos. Levantar o que está por ventura caído à nossa volta vale mais que alimentar a fogueira ardente das infinitas lamentações dos tempos de fartura e bonança. Sim! Então, mãos postas na massa para cozer o pão, para reaproveitar o pedaço de tecido que tenhas jogado no balde de lixo, corre veloz para apanhar o plástico antes que o vento possa levá-lo até ao mar. Jovem ergue os braços para levantar a enxada e cultivar a terra generosa que o nosso Bom Deus nos deu. Se o teu olhar for sincero e puro verás que quando passa a trovoada e os ventos opostos, quase sempre debaixo dos escombros e da derrocada que o seu efeito causa, há muito trabalho à espera para ser feito. Então! Que opção tomar em tempo de pandemia e crise económica acentuada? Escolheria a ocupação saudável e deixaria de lado a preocupação exagerada em pretender viver já aqui e agora o que só virá depois - o dia de amanhã com os seus desafios.

A tomada de consciência de um povo que foi acostumado a viver de um sistema económico de encomendas contentorizadas deverá ser o ponto de partida para voltar ao campo e produzir para si e para outros que possam vir a necessitar da nossa solidariedade. Eis o poder da recuperação. Acreditar que depois da queda ainda há possibilidade de erguer-se para compor e formatar o que tinha sido deformado.

Em nossa Casa o trabalho é como uma mola mestra para um carro. É o trabalho que dignifica e edifica a personalidade do rapaz em estado de ascendência para a sua verdadeira afirmação. O trabalho é sempre o trabalho. Ele tem várias dimensões: intelectual, prático - artístico. É trabalho! Para o progresso da humanidade ou para a realização e satisfação pessoal. É trabalho. A capacidade de ser resiliente exige e impera uma postura de esforço, constância, resistência, coragem e muita determinação.

É no campo, é na escola, é nas oficinas, é na oração, é na convivência com os irmãos, é no desporto, lazer e recreação que o trabalho forja as várias dimensões da pessoa entendida como um projecto em construção saudável face ao desenvolvimento das suas reais competências. E muitas vezes na vida quando tudo se parece estar a chegar ao fim, é então que subitamente tudo volta a erguer-se para recomeçar o itinerário sobejamente traçado. A conclusão é de Pai Américo: «Educar é dar-se pelo conhecimento íntimo do seu educando. O nome, o número e as fichas do rapaz são um zero em matéria de educação. Eu nunca li fichas de nenhum dos meus rapazes. Nunca li informações. Não falta quem me diga mal de alguns, apontando, até, factos concretos. Eu porém, oiço em silêncio, guardo tudo no meu peito e espero que o rapaz se revele a mim. Ele é que me há-de dizer tudo. Isto é educar. Isto é o toque espiritual de uma Obra de Assistência a Menores.»

Padre Quim