VINDE VER!

Eles no campo

Vejo crescer, com esperança, o verde do nosso terreno, outrora zona de depósito de lixo, terra batida e calcada por gente desconhecida. O nosso tractor desbrava a terra de um ponto ao outro, preparando a cama onde serão deitadas as sementes. Com a subida dos preços e a desvalorização constante do cuanza (moeda), os meios para fazer uma boa agricultura tornaram-se difíceis de serem adquiridos. Foi-me posto em contacto dos olhos uma lista de compras para o campo. Quando fomos a saber nas lojas, só conseguimos trazer para Casa metade de quanto se pretendia, o dinheiro não chegava para as aquisições. Ainda assim, aguardamos uma colheita abundante, pelo que já esta semeado.

Os nossos motores eléctricos estão quase sempre na oficina, devido às avarias constantes, um novo modelo de rega ajudaria a fazer crescer as nossas plantações.

O «Paizito» deixou o campo e começou a trabalhar numa fábrica de alimentos nos arredores da zona alta do Bairro da Graça. O «Santinho» foi ocupar o lugar que tinha ficado vazio. Vamos fazer uma cortina com árvores de gajajeiras para defender dos ventos a plantação de coqueiros e mangueiras da zona baixa do nosso terreno.

Começou o tempo de cacimbo (frio), e as plantas do nosso viveiro já estão prontas para serem transplantadas nos respectivos canteiros. Os vizinhos, quando passam pela avenida, desejam e pedem as nossas plantas para levar aos seus campos. Somos solidários e partilhamos o pouco, que se torna muito para outros camponeses. Já chegaram plantas de bananeira vindas também de outras Quintas. Quem partilha prepara-se para receber, sem compromisso algum, no dia seguinte.

O nosso apiário já deu muito mel. Comemos todos durante vários domingos ao pequeno-almoço. Encontra-se neste momento com pouco movimento de abelhas. Outro dia houve dispersão da malta que correu para longe quando o apicultor andava a trabalhar com as colmeias. Os vitelinhos foram vítimas por estarem perto do local da vacaria. Foi preciso muita fumaça para salvar os vitelos. Já disse aos que lá trabalham para a urgente tarefa de as transladar para outra zona da Aldeia que esteja o mais distante das pessoas e do gado.

Recomeçamos os trabalhos nas oficinas depois das restrições impostas pelo estado de emergência vivido no País. Alguns rapazes já estão bem enquadrados no campo e, de comum acordo, já não voltam para as oficinas. Outros tantos, que já fizeram dezasseis anos, irão para lá. Aproveitamos a boa vontade do rapaz para fazer uma educação verdadeiramente participativa com o educando, deixando assim de ser sujeito passivo para assumir a posição de protagonista neste processo de preparação para a vida. A conclusão é de Pai Américo: «Andamos agora muito ocupados com a sementeira das nossas batatas, plantio de cebola e mais géneros de horta. Quem disse que os vadiozinhos da rua não se afeiçoam aos trabalhos do campo? Nós temos nas nossas Casas a prova do contrário.»

Padre Quim