VINDE VER!

Nova maneira de estar

A pandemia que assola o nosso pobre mundo, veio impor novas formas de estabelecer as relações sociais e humanas. Os governos enfatizaram o carácter obrigatório de atitudes que eram apenas facultativas no quotidiano da maioria das famílias e de outros organismos que sustentam o dinamismo da vida social.

A expressão de gestos de afectividade que é normal e saudável para a manutenção das boas relações no seio de uma comunidade, passou rapidamente de actos concretos para a esfera da intenção. E se era apenas um slogan dos extremistas em matéria de liberdade dizer que "é proibido proibir", hoje é permitido e obrigatório proibir certos comportamentos para evitar danos maiores na saúde da população mundial. O silêncio reina e impera no centro das grandes cidades. O homem retirou-se contra a sua própria vontade, e empurrado para o interior da sua casa traz de volta "o mito da caverna de Platão". O sol brilha e consigo a luz desbarata a escuridão. O reflexo da luz oferece a vista das imagens que entram no telemóvel através da internet ou pela televisão ou o computador. Esses meios de comunicação transformaram-se em deuses no seio de muitas famílias, adorados vezes sem conta em grande parte das horas do dia. Onde está o nosso Deus que nos libertou da escravidão do pecado e nos deu uma vida nova em Cristo seu Filho muito amado? Qual é o tempo que Lhe é reservado? Estão proibidas as manifestações de culto e religiosidade de forma colectiva, mas estão abertos os mercados e praças onde milhares de pessoas se cruzam como setas. As Igrejas encontram-se fechadas, as escolas também. O que será do homem pós o coronavírus? O que lhe restará ainda desta fase sem educação religiosa? Sem escola? Sem relações humanas saudáveis? É caso para se dizer; "quem viver, verá".

Um dos nossos rapazes fez anos. Veio todo contente comunicar tão importante data para a sua vida e para todos nós que vivemos na mesma família, e grande foi a tristeza que tive por não poder dar-lhe um grande abraço como era de costume. Apenas um sorriso e um doce para brindar o seu dia de feliz cumpleaños.

Muitas famílias angolanas vivem dependentes do mercado informal, não tiveram sequer tempo para preparar um reforço em casa para esta fase de quarentena. Durante muitos anos foram acostumadas pelo contexto social baseado numa filosofia de vida que as levava a viver o hoje em função do que podiam vender ou comprar e assim por diante. E se já não bastassem as dificuldades de ter de sobreviver no meio da miséria, da fome, da malária e de outros tantos males que afligem a nossa gente, veio ainda mais agravar a situação o confinamento e o distanciamento social.

Em nossa casa a vida é comunitária e os actos são de igual modo de natureza participativa. Estamos a observar as medidas de prevenção. Os rapazes andam mais isolados, cada qual cumprindo a sua obrigação. Os maiores compreendem a situação, os mais pequeninos querem o colo dos maiores e esses não o podem dar porque estão proibidos de o fazer pelas autoridades da saúde.

Veio até à nossa Casa um empresário que ofereceu, desta vez sem chamar a televisão e a rádio, algumas caixas de álcool, gel e luvas, que nos tem servido de grande utilidade. As máscaras estão a ser costuradas pelo «Suculeta» que aprendeu a costurar antes que mestre «Romeu» entrasse para a reforma. Já vieram muitas pessoas pedir para ocupar este lugar, mas eu disse que alguém que melhor o pudesse ocupar, este seria, sem sombra de dúvida, um rapaz nosso. E assim o é! A conclusão é de Pai Américo: «Ninguém espere fazer homens de rapazes domados».

Padre Quim