VINDE VER!

Só mesmo o amor...

«A Obra da Rua é uma formidável demonstração do valor espiritual desses inocentes farrapados a que os nossos olhos se afizeram e aonde o coração de quem sabe amar, pode descobrir e na realidade descobre infinitas possibilidades divinas. Como descobrir essas riquezas no farrapão da rua? Olhando para cada um deles com o olhar de Jesus. Mais nada. Não é preciso mais nada. Essa visão dá-nos a compreensão total da criança. Vê-se nela imediatamente o homem, o cristão, um mundo. É do Céu que vem esta luz.»

A doação total aos filhos que vieram da rua é um acto de bravura contra a lógica mercantil dos tempos modernos. E a ganância de ter e viver só para si; quando contornados pela simplicidade de vida, dão mais alegria e sentido de viver do que o dinheiro todo do mundo. Apesar de estarmos a viver num mundo que pode ser identificado por variadíssimas características e, com destaque, para a introdução da bandeira do mercantilismo nas relações humanas e sociais, onde o processo educativo das mais novas gerações se encontra, até certo ponto, passível de ser salpicado de nódoas. A história apresenta várias personagens que souberam viver de modo diferente da lógica do mundo e doaram-se admiravelmente. Trago aqui o exemplo do santo de Molokai: Padre Damião. Grande na caridade. E quando as autoridades quiseram oferecer-lhe um ordenado de dez mil dólares por ano, ele respondeu humildemente que, nem por cem mil ele ficava no meio de leprosos, e ficou lá por amor, até ser e morrer leproso! «Não há ninguém no mundo que por dinheiro trate humanamente as obras humanas - ninguém». Vivemos tempos de dificuldades neste País. O povo está asfixiado de tanta pressão vinda da introdução de impostos, o que tem originado a subida de preços no mercado.

Vivemos animados no meio deste contexto de incertezas, pelas razões que o coração tem e a razão desconhece, no dizer de Blaise Pascal. Quem tem um motivo para lutar não tem tempo para pensar porque luta ou com que meios vencerá as inúmeras batalhas do dia-a-dia. Simplesmente doa-se! Este espírito, aos poucos, tentaremos ir introduzindo na configuração educativa dos nossos rapazes, pois está totalmente de acordo com o projecto de Pai Américo. «que sejam os rapazes os continuadores da Obra. Para que este desejo se concretize, é necessário que o espírito de pertença esteja em alta na maneira de estar em nossa Casa de todos os seus habitantes. Educar é dar-se pelo conhecimento íntimo do seu educando. O nome, o número e as fichas do rapaz são um zero em matéria de educação. Eu nunca li fichas de nenhum dos meus rapazes. Nunca li informações. Não falta quem me diga mal de alguns, apontando, até, factos concretos. Eu, porém, oiço em silêncio, guardo tudo no meu peito e espero que o rapaz se revele a mim. Ele é que me há-de dizer tudo. Isto é educar. Isto é o toque espiritual de uma Obra de Assistência a Menores.» «Eu quero que o gaiato a meu cuidado se habitue a esta coisa simples e grandiosa - fazer a sua obrigação; e que, desde pequenino, comece a obrigar-se a ela. Custa muito à criança, sim, obrigar-se a pequenas tarefas; educar é justamente contrariar, modificar a vontade do educando.» A conclusão é de Pai Américo: «Nós somos todos feitos de amor, para amar. Cada um de nós é um milagre de amor, do Amor infinito de Deus; e uma vez dentro da vida, temos de a realizar... amando. Porque somos essencialmente feitos para amar, como os passarinhos o são para o firmamento e as abelhas para o mel. [...] Todo o valor moral da nossa vida gira à roda deste verbo pequenino e imenso, o verbo amar, no infinito... infinitamente.»

Padre Quim