VINDE VER!
O trabalho
Toda a estrutura que se quer firmar com segurança, tem, certa- mente, uma base forte onde assenta os seus fundamentos. No projecto educativo das Casas do Gaiato encontramos um princípio inovador quanto à maneira de educar menores abandonados no sistema de institucionalização. Este elemento chama-se: inclusão. O rapaz, conforme a sua idade e as suas capacidades, é chamado/convidado a entregar-se nas mais variadas actividades da vida de Casa. E na medida em que for manifestando as suas competências, habilidades e força de vontade, vai assumindo postos de maior serviço e dedicação aos seus irmãos. O trabalho tem grande valor quando é executado em benefício da Comunidade. Ela está em primeiro lugar em tudo quanto circunda o nosso pensamento. Não temos quem faça por nós, aquilo que cada um de nós pode fazer e, até, com níveis bastante consideráveis de um dever bem feito. Às vezes, até, de deixar os olhos abertos de admiração e espanto.
«O trabalho é a base da vida nas Casas do Gaiato»: somos uma Aldeia cheia de vida em desenvolvimento, procurando o bem de todos os membros da família em busca da construção integral do homem de amanhã. Trabalhamos para transformar vidas, animar sonhos, entusiasmar projectos e conquistas de realização de cada um dos nossos rapazes. Antes de tudo, a construção de uma nova mentalidade se configura no nosso contexto como um grande trabalho de amor infinito e de paciência constante. Depois deste momento, então - dar trabalho, para ser feito, é uma saudável intenção e, desta, passamos para a acção. Ora, a ocupação durante o dia dá muita satisfação a quem assim se encontra - saúde mental em excelente estado, pão e tecto garantidos, paz e amor no lar. Desmarcando-se de cumprir o ditado popular: casa onde falta pão, todos ralham e ninguém tem razão. O trabalho é fonte de concórdia e harmonia no seio da família. Livra-nos de castigos e incompreensões alheias. Em nossa Casa, a ausência do rapaz, em hora e local de trabalho confirmados, é tida como uma grande falta e merece apreciação cuidadosa e aplicação de um reforço conveniente para desaconselhar o fugitivo do caminho espinhoso - antes que seja sufocado pela miséria.
E quando recebemos visitas, de tão admirados que ficam de ver o nosso pátio frontal completamente desértico, levantam, quase sempre, a seguinte interrogação: - Onde estão os vossos rapazes? - Em casa -, resposta quase sempre assim dada. E peço para darmos uma volta pela Aldeia percorrendo as instalações. E vamos encontrando os grupos de rapazes dispersos pela Aldeia, mas organizados segundo a nossa maneira.
Então, são vistos a fazer, para aprender a saber fazer, a saber ser e a saber estar. Eles, no jardim, no campo, na escola, na cozinha, nas oficinas. Eles, a cuidar do que é seu com zelo e dedicação. E quem é que não se espanta ao ver o garoto, antes vadio, hoje, a ocupar o lugar de um homem útil, de bem. Andamos atarefados com os trabalhos da vedação da nossa Aldeia. A nossa casa-Mãe, em Paço de Sousa, tem sido grandemente generosa para com as despesas. O nosso muito obrigado. Tudo isto é trabalho e amor de tantos corações apaixonados pela causa dos pobres, a quem também estendemos a nossa gratidão e reconhecimento. A conclusão é de Pai Américo: "estes rapazes são luminosos; certas afirmações suas abrem-se em luz no espírito. Exemplo: ontem falando com chefe dos carpinteiros, disse-lhe da minha alegria por gozar a experiência de que alguns dos nossos rapazes já me iam prestando valioso auxílio; e desfiei o nome de alguns. O rapaz escuta-me atentamente, mas não se espanta nem encarece. Acha tudo muito natural. Fala-me com os seus olhos e diz: pois de onde saem os homens? Eis aqui a luz. Eis aqui a simplicidade que desconcerta. Os homens saem naturalmente do rapaz».
Padre Quim