VINDE VER!

À beira da lagoa

A natureza é uma fonte de energia renovadora das forças fatigadas pelo trabalho do dia, quando apreciada com os olhos de dentro! "O essencial é invisível aos olhos, só se vê bem com o coração". A verdadeira beleza vem de dentro, e é de lá donde tudo retoma vigor e alento. Ela é uma fonte de inspiração para artistas e para os cientistas, para crentes e ateus, afinal todos somos filhos do Pai do Céu.

A lagoa tem uma longa história. No silêncio da baixa da aldeia corre lentamente, e sem parar, um fio de água que atravessa quase dois quilómetros, já dentro da nossa propriedade, e vai ter ao pomar de baixo, juntinho ao alinhamento das mangueiras. Lagoa do encanto dos nossos rapazes que, teimosamente ao longo do dia, a visitam para a pesca. Às vezes, só para molhar mesmo o anzol. Lagoa do encanto da cidade e dos seus moradores. Lagoa das águas serenas, foste durante os anos da guerra o aconchego das famílias de Malanje, à beira de si, reanimaram-se projectos e sonhos da juventude, consertaram vidas esfarrapadas, como num espelho natural, projectavas o sorriso no rosto dos visitantes. Oh! lagoa da nossa infância. Que saudades! Foste uma sala bem apetrechada e climatizada de psicoterapia sarando as feridas e traumas da guerra. E apesar de passares mesmo perto da escola e da casa 3, não incomodas, nem os alunos, nem os moradores. Na propriedade toda a terra é fértil, de capim alto, de queimadas constantes no tempo de "cacimbo". Zona de caça do veado, da corça e da lebre espertalhona que vem beber água fresquinha nas margens da barragem junto à encosta, que só com a luz encandescente do farolim se deixa dominar. Então a rapaziada animada salta da carrinha e corre veloz pelo mato dentro depois do soar do cartucho e volta com a presa nas mãos. Ao passar pela avenida um tapete roxo surpreende quem o avista. Não veio da industrial têxtil. São flores de jacaranda, que ao som do vento embalaram até adormecer no chão de areia fria.

No alto da torre da capela onde fui baptizado, recebi a confirmação e onde celebrei a Missa nova um sino novo marca a hora das actividades. A comunidade acorre apressada. Levantar, tomar a refeição, rezar, estudar, recrear e voltar a deitar para o descanso merecido. Na zona do café outro espectáculo da mãe natureza. Tudo revestido de cor, luz e vida. Passam-se os tempos e com ele as gerações de rapazes. Encontrei uma comunidade bastante nova. Já com outros filhos nos braços da mesma mãe - a Casa do Gaiato. A conclusão é de Pai Américo "A Obra recebeu inspiração no conhecimento actual de quanto sofre a criança abandonada dentro dos tugúrios, dos pardieiros, a dormir nos beirais das casas e nas retretes públicas; sem família, sem carinho, sem amigos; entregues absolutamente a si mesmos, desprevenidos, enganados na rota".
Padre Quim