VINDE VER!
De olhos postos na agricultura
Existe um património comum que nos foi dado pelo Autor da criação do universo. Uma bênção universal de tamanha dimensão e alcance para todas as gerações, passadas, presentes e futuras. Refiro-me à nossa casa comum, a mãe Natureza - de maneira ainda mais directa, à Terra.
O percurso histórico da humanidade ilustra um quadro de harmonia social. O homem não sabia trabalhar, a mãe Natureza encarregava-se de alimentá-lo com os seus frutos; folhas, flores e sementes. A sua despensa era ao ar livre.
A bondade do Criador encheu a Terra de fecundidade. Deus é a fonte última de tudo, fundamento amoroso e comunicativo de tudo o que existe. Todo o homem tem direito a um pedaço de terra para se poder estabilizar; montar a sua tenda; outros, a sua vivenda e, outros ainda, o seu arranha-céus, poder comer dos frutos da Terra, resultado do seu esforço e do suor do seu rosto. Sabe melhor o pão que amassamos! Para cada um, o sabor será mais doce quanto mais envolvido estiver para consegui-lo arranjar. Queremos o pão nosso de cada dia! Sim. E o sabemos pedir em cada celebração que rezamos o Pai Nosso!
A nossa terra é generosa, abençoada e com verdes campos. Uma verdadeira potencialidade para dar de comer aos seus filhos. Mas o verde a que me refiro em grandes extensões desta bela Angola, é um verde de ervas do campo - o capim bravo. As sementes do milho, do trigo, do arroz, do feijão e outras tantas, ainda não foram lançadas nestes campos férteis. As aldeias encontram-se quase desérticas, a fome obrigou o homem a fugir do campo para os grandes centros de comércio. Onde a compra e venda de produtos "plantados pelos contentores", vindos de fora, aliciam e desincentivam a produção local. A moeda nacional tem o nome do maior rio do País e realmente cumpre a sua missão de correr veloz até à sua foz. É o dinheiro que não compra nada. Encontra-se completamente desvalorizado!
Quem vive neste contexto é conhecedor da dor que experimenta. A dor é conhecida pelo seu dono! Então impõe-se resolutamente a reviravolta da situação. Que fazer? Estou convencido que chegou a hora de voltar para o campo, para quem já lá esteve, e, para a malta jovem, uma grande oportunidade de colocar em marcha um plano inovador de reforma sócio-agrária como solução para tirar os jovens da rua, da criminalidade, e do alto nível de desemprego - onda ainda ancorada há várias décadas.
Não é novidade para ninguém que as reformas da administração do Estado continuam sem impacto algum na vida do cidadão. A dança de cadeira é a mesma; enquanto isso, a realidade também é a mesma. E vão-se perdendo os valores culturais e morais. A troca da dignidade por uns bolinhos adocicados.
Em nossa Casa do Gaiato de Benguela queremos levantar o sector da agricultura, é saudável para todos. O rapaz aprende a trabalhar no campo, aproveitamos a fertilidade dos campos e todos nos saciamos com os frutos da terra. À partida sabemos que a agricultura é uma arte cheia de incertezas, mas vamos confiantes. Precisaremos de muito material, desde as alfaias agrícolas, sementes e tudo o que concorre para uma boa produção. Pedimos aos amigos da Casa do Gaiato, mais uma vez, a extensão da generosidade do seu coração para este novo desafio. A conclusão é de Pai Américo «é a mãe-terra a infundir vida e alegria na própria vida destas crianças. Ele há tanta gente dos nossos campos que vai procurar melhor vida no trabalho das cidades, para ali queimar as próprias asas como as borboletas na luz! Nós havemos de remar contra a maré e induzir os nossos rapazes a sacar da terra pão e saúde».
Padre Quim