VINDE VER!

Cartas abertas

Escrevo no Dia do Pai! Aquele homem que Deus enviou para ser chamado por esta expressão, mesmo antes que se conheça o seu nome próprio. Ele é pai. A Igreja Católica celebra hoje a solenidade de São José Esposo da Virgem Maria. "Homem fiel e prudente que o Senhor colocou à frente da sua família", (Antífona de entrada). Modelo de santidade. A cerimónia eucarística teve lugar na capela do Mosteiro Mãe de Deus. Beleza, silêncio, contemplação, e alegria na simplicidade e profundidade da acção litúrgica deixaram marcas solenes aos participantes, marcas de comunhão entre o humano e o Divino. É o dia do Pai! Figura que inspira confiança. O pai é aquele de quem se espera. De bolsa vazia ou cheia ele é mesmo assim o pai.

De regresso a Casa pela avenida aparecem as saudações; Feliz dia do Pai! Feliz dia do Pai! A figura paterna é de grande importância quando está presente. Pois na língua dos meus avós ensinaram-me o ditado que encerra a seguinte sabedoria: papa "weza enzala wabu", cuja tradução é: o pai chegou a fome acabou! A palavra pai tem peso e ocupa espaço aonde quer que seja pronunciada. A sua presença é sinónimo de tranquilidade, segurança, conforto e até ausência de fome se faz sentir. Simplesmente porque se trata do pai, seu coração percebe. Os verdadeiros pais da terra são, e procuram ser, cada vez mais a imagem do Pai celeste.

Depois de vir de dar uma volta pelos sectores da vida de Casa em movimento, escola, oficinas, limpezas, sento-me no escritório para trabalhar. Sobre a mesa deposito as cartas que me foram entregues por vários rapazes alusivas a este dia. Cartas e mais cartas fizeram-me alterar o título desta crónica. Cartas traduzindo expressões de afecto puro. Apesar da trajectória conturbada pelas quais a criança veio ter a nossa Casa, ela quer ser amada e ter presente no seu dia-a-dia a figura paterna. São tantas cartas que algumas estão ainda por ser lidas, pois era necessário e urgente compor estas notas e enviá-las a Paço de Sousa a tempo de serem alinhadas na coluna do Vinde Ver! E chegar aos nossos leitores ainda quentinhas, como pão acabado de cozer no forno. Se todos os pais do mundo inteiro sentissem o carinho que estes filhos manifestam hoje, ontem certamente não os teriam deixados à sua sorte, no abandono. A criança quer amar e sentir-se amada, para amar cada vez mais ainda. O pai cuida e vela noite e dia pela conquista da felicidade dos seus filhos. Toda a vida do pai é dada de modo grande aos filhos. No sentir de Pai Américo, mesmo longe, mesmo casados, os rapazes continuam a encontrar na Obra da Rua a casa de família. Para visitar «os seus filhos» empregados em África e para arranjar mais colocações, o Padre Américo foi até Angola e Moçambique. Partiu com o coração dividido entre os filhos que ficavam e aqueles que ia a encontrar.

A conclusão é de Pai Américo: «"Filhos criados, trabalhos dobrados." Por amor deste rifão, lancei-me a caminho de África ver os filhos que já lá tenho (...) Eu sou o agente de uma Obra fundada na altíssima pobreza do Evangelho. Por isso mesmo fui pedra reflectora da bondade de quem me via passar».

Padre Quim