VINDE VER!
O Feliz
A felicidade é um desejo muito querido dos seres humanos. Ela é procurada de diversas formas e sobre vários caminhos enquanto o homem se faz ao longo da sua peregrinação, nesta curta e aliciante viagem à luz do sol. Muitas vezes os meios para o seu alcance revelam-se pouco eficazes para tal fim. E quando assim sucede quase sempre retira-se a culpa própria e passa-se a atribuir ao outro. Alguém tem de cobrir com a sua sombra as manobras fracassadas de outrem. O homem é feliz quando descobre a sua verdadeira missão neste mundo e tudo faz para a realizar, mesmo que seja debaixo de enormes sacrifícios. Quando alcança o estado de equilíbrio consigo mesmo, com o outro, com os outros seres criados e com Deus. Teve razão aquele que afirmou que "as portas do castelo da felicidade abrem-se para o lado de fora". Nós somos a porta aberta, Obra dedicada aos pobres, doentes e crianças em situação de risco. Vivemos para servir até ao fim. Somos uma só família unidos pelo pelo mesmo vínculo, o amor aos pobres de modo preferencial.
Nestes dias, a seguir ao Novo Ano, veio numa tarde pelas mãos da polícia o nosso novo membro da família, que andava perdido pelas ruas de Benguela, fortemente mergulhado na vadiagem e outros males pesados para a sua ainda verde idade. Encontrava-me ausente de casa pelo movimento frenético imposto pelas escolas no acto de inscrição e matrícula para conseguir 12 novos lugares na 10ª classe. Perto à hora do Terço, à porta do escritório vejo um menino novo. Sinais evidentes de uma vida dura lá fora, marcados no seu rosto, olhar atento e corajoso dominam a atenção da nossa rapaziada. A primeira pergunta: Qual é o seu nome? Veio de imediato a pergunta como se de um soldado pronto e destemido se tratasse. «Feliz», disse o garoto. Pois feliz é agora porque tem uma verdadeira família que vai cuidar de si - veio esta confirmação dentro de mim. E quando li a nota vinda do Ministério Público fiquei admirado. Agora está connosco em segurança. Verdadeiramente feliz. Aqui não há polícias, nem prisão, há, sim, a liberdade, muita liberdade e muita responsabilidade para ser feliz, não só de nome, mas em realidade factual. O Feliz não tem documentos para poder ir à escola, já tem 13 anos de idade, gosta de trabalhar e quando tratado com carinho retribui sempre carinho e amor. A rua já era. São contas do passado amargo. No presente é feliz. A conclusão é de Pai Américo: "Deus do Céu e meu Senhor que o Gaiato seja a palavra nova que apaixone as almas e lhes dê saudades das coisas divinas".
Padre Quim