VINDE VER!
O Chefe
«O chefe, na nossa doutrina, quer dizer servo da comunidade. É ele quem parte e distribui à mesa». É uma palavra de peso na sociedade, mais pela atribuição social do que propriamente pelo desempenho e competência das suas obrigações conferidas. Servir não é uma expressão comum para grande parte dos gestores públicos. Servir-se! Ah!, esta já é mais conhecida e apreciada. Vi passar um filme que retratava o modo como a autoridade era entendida em tal sociedade anónima, em pleno século XXI. Uma das cenas vista, indicava que quando o senhor polícia mandava parar um carro, o homem tornava-se mais compreensivo quando era tratado por chefe. Mesmo que seja um senhor doutor a dirigir-se a um menos instruído academicamente. "Pois analfabetos todos somos, dependendo das circunstâncias". Senhor guarda? Nunca. Arriscas uma multa, mesmo tendo tudo em ordem. E porquê? Se está tudo certo, sem nenhuma infracção, porque o carro tem pouco gasóleo.
Ao chegar a uma repartição de saúde ou de educação ou outros organismo estatais e, até, privados, as pessoas eram recebidas com as seguintes indicações: "o senhor tem que esperar pelo chefe". "Pode voltar amanhã, o chefe hoje não apareceu". O nome próprio tornou-se secundário, num ambiente sócio-político onde as marcas da burocracia se encontram estampadas nos gestos e nas palavras contrárias ao progresso esperado num estado democrático de direito.
Em nossas Casas também encontramos a figura do chefe, mas não como alguns departamentos sociais da cena o publicitavam. Entre nós, o chefe é um irmão mais velho chamado para servir. Que ao dizer estar pronto, assume a missão de velar pelos seus irmãos em diferentes áreas que compõem a nossa vida familiar. Tem nome próprio e personalidade marcada pela responsabilidade. Tem suas limitações como os outros rapazes, suas necessidades, sonhos e ânsias de construir hoje um futuro risonho - e faz por acertar e materializar o seu projecto de vida, quer na escola, no trabalho, nos actos de comunidade, na sua vida pessoal. Não tem sido fácil, nestes últimos tempos, encontrar chefes para se comprometerem com esta árdua tarefa. Estamos confiantes e à espera dos frutos da sementeira feita no coração dos rapazes aos sucessivos apelos à responsabilidade, no cuidado aos irmãos mais novos. Afinal, somos Obra de rapazes, para rapazes, pelos rapazes. Esta senha diz tudo. E basta. Isto verifica-se em todas as actividades domésticas. A conclusão é de Pai Américo: «o ambiente de família transforma e convence estes pequenos sem família. A verdade encontra-se na própria natureza das coisas, virgem. Nem sistemas, nem violências, nem pautas. A principal missão dos verdadeiros chefes é servir os seus súbditos. Descer. Debruçar-se. Sentir. Amar. Quem assim fizer em lugar de supremo comando, será verdadeiramente supremo. Jamais se rebaixa por muito que se humilhe».
Padre Quim