VINDE VER
Canas agitadas
A sociedade contemporânea atravessa os meandros mais turbulentos da história da Humanidade. Os fundamentos que pareciam seguros, em vários campos da compreensão da realidade que envolve a capacidade humana de conhecer, foram profundamente abalados. As teorias e princípios, outrora considerados como condutores de uma vida harmoniosa, ordenada, estável e previsível, sentem-se fortemente fustigados pelos ondas do ocaso. Para apontar algumas evidências que se apressaram, neste advento das incertezas, estão as ideias de carácter e de liderança, que chegam a ser materializadas, aqui e acolá, um pouco pelos quatro cantos da terra "mater nostra", onde se desenrola a breve e maravilhosa experiência da existência dos seres humanos. A liberdade para poder escolher sistemas e individualidades para o topo do comando, de qualquer estrutura sócio-cultural, determina o futuro de milhões de pessoas no Planeta. Os ventos sopram sobre os telhados da dita "Aldeia Global", inaugurada pela era das novas tecnologias de comunicação, e a Aldeia de todos nós é posta em alerta. Angola geme, clamando pelo resgate dos valores morais e cívicos que se perderam. O fosso das desigualdade e injustiças sociais continua cada vez mais denso, avizinham-se as eleições de Agosto próximo, discursos agitam o interior do País, a crise bem alto ateia a sua bandeira. Mais e mais para os que já têm; e menos e menos para os que nada têm. Essa força, mesmo quando adoptada em nome dos modelos, não junta, mas dispersa. A agitação de milhares de pessoas, sobretudo os pobres, movidos pelas convulsões sociais, também é sinal da chegada de ventos novos. Veio o guarda comunicar que na noite passada alguém entrou na garagem e roubou a bateria do tractor. Quem foi? "Ninguém sabe". "Ninguém sabe". Até a verdade tão querida e aprendida desde pequeninos foi abalada. Veio a polícia e sim já se sabe. Foi um que era da nossa Casa, veio roubar aos seus irmãos. A moralidade dos actos humanos também foi significativamente arremessada para fora do seu verdadeiro papel. Os actos do homem ascenderam a posição que não lhes é devida. As canas agitadas dançam e fazem dançar as novas gerações, que acabaram por trocar o respeito e obediência ao catecismo pelo medo da força brutal dos agentes da polícia. E urge a intervenção de todos para salvaguardar o bem que ainda suporta a força dos ventos que fustigam os nossos telhados. A conclusão é de Pai Américo; "a penúria dos irmãos dá-nos violência nas palavras e lágrimas no coração".
Padre Quim